Título: A tsunami do presidente Lula
Autor: Jorge Bornhausen Senador (PFL-SC)
Fonte: Jornal do Brasil, 10/02/2005, Outras Opiniões, p. A11

Para o presidente Lula, tsunami é vendaval, ou seja, vento tempestuoso. Tudo bem, a essa altura do ''jogo'', como ele costuma dizer, não importa tanto seu conhecimento de geofísica, mas o valor político de sua metáfora. A tsunami, ou ''onda de porto'' como o nome originalmente significa, é um fenômeno raro e inesperado que produz graves prejuízos e muitas vítimas entre as populações das orlas marítimas desprotegidas.

Na ânsia de externar os pensamentos, e os verbalizando tão abundantemente como costuma fazer, acredito que o presidente Lula, confundido por seu radar interno, disse uma coisa quando queria dizer outra. Tanto que detectou, no mandato de Fernando Henrique Cardoso, a catástrofe que o instinto político aponta para o seu próprio futuro.

Todos sabemos que os únicos avanços que o presidente Lula pode comemorar (como é o caso do desempenho da balança comercial) ele os recebeu de herança. E não custa lembrar que o processo de abertura da economia ocorreu a despeito da sangrenta oposição do presidente Lula e do PT. Hoje, o desempenho da economia brasileira só não tem sido pior porque as exportações cresceram.

De fato, não há razão alguma para o discurso da ''desconstrução'' do período FHC. São tantos e tão inegáveis os avanços do governo Fernando Henrique/Marco Maciel que a insistência em denunciar o suposto desastre econômico de 2002 parece um caminho tolo e sem sentido. O ano de 2002 foi ruim para todos os países emergentes. Muitos sofreram ataques especulativos contra suas moedas, que se desvalorizaram fortemente: Chile, Coréia, África do Sul, Rússia, Venezuela etc. etc., inclusive o Brasil. Aqui, ademais, temia-se a tsunami do PT (T de Tsunami?).

A marca diferencial da administração PT em relação à conjuntura mundial adversa de 2002 foi, isto sim, a lentidão e imperícia com que o Brasil tentou colher resultados quando a maré virou para positiva, entre 2003 e 2004. Ano passado, o mundo cresceu 5% em média. O Brasil, após um péssimo resultado em 2003, apenas conseguiu empatar com a média mundial em 2004. Portanto, apesar do marquetismo político intenso, o desempenho econômico do Brasil na atual recuperação - que é mundial - pode ser classificado como medíocre.

Qualquer cidadão comum percebe que o Brasil, infelizmente, não ''rendeu'' nem próximo ao seu potencial nestes dois últimos anos. E a razão é simples: o timoneiro do navio não sabe bem para onde vai. Daí a lentidão dos seus movimentos pseudo-reformistas, os programas fracassados e afundados (lembra-se do Fome Zero?) e os anúncios bombásticos, mas vazios de conteúdo.

Já dizia Marshall, um célebre economista inglês do século XIX, que há quatro fatores de produção: terra, trabalho, capital e organização. Sem este último elemento, os demais ficam comprometidos. A equipe de Lula, desafortunadamente, não soube organizar o Brasil para o avanço. Dois anos se passaram. Foram-se os melhores meses de uma administração cujo mandato era, até mais que para FHC, uma carta-branca do eleitor em defesa de mudanças radicais... para melhor.

Dois anos depois, está trincada a confiança. A artificial valorização do real, na esteira de um novo ciclo terrorista de juros escorchantes, apenas prenuncia o desastre econômico do fim antecipado da breve e soluçada expansão da economia brasileira.

No afã de repetir os erros cometidos na partida do Real, dos quais pensávamos já ter tomado uma boa lição, vem a administração do PT aumentar a dose do veneno com a qual fará sucumbir a leve brisa de recuperação do emprego, já que a renda, mesmo, jamais reagiu até agora. A agricultura está de joelhos, a indústria hesita em investir, o governo não pára de gastar loucamente, enquanto o novo avião presidencial cruza os ares como alegre borboleta.

A nova escalada tributária, marcada pela audácia da MP 232 sobre os assalariados e o setor produtivo, é a mais recente manifestação dessa desorganização latente da economia frente ao objetivo maior de crescer de forma sustentada. A tsunami que o presidente viu não está no seu espelho retrovisor, nem no passado do seu antecessor, mas no futuro que ele próprio está semeando. Pensando bem, daqui a dois anos poderemos constatar que este governo foi como a tsunami: chegou fazendo a maior onda e terminou arrasando quando foi embora.