PF: delegado que criticou inquérito do STJ perde cargo

15/04/2021

A nova direção da Polícia Federal decidiu tirar do comando do setor de inquéritos contra políticos, o Sinq, o delegado Felipe Leal, que recentemente assinou relatório apontando ilegalidades no inquérito aberto pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra procuradores da Lava-Jato com base nos diálogos obtidos por meio de ataque hacker. No documento, o investigador ressaltou que a prova tinha “origem ilícita” e apontou que utilizar esses diálogos poderia resultar em crime de abuso de autoridade. Para o seu lugar foi escolhido o delegado Leopoldo Lacerda, que chefiava a delegacia de combate ao crime organizado em Alagoas.

A manifestação do delegado Felipe Leal foi feita a partir de um relatório da perícia sobre os diálogos obtidos pelo hacker, que concluía não ser possível confirmar a autenticidade. O delegado chegou a escrever que prosseguir com uma investigação nessas bases resultariana“eutanásiadosrumosdaPolíciaJudiciária”,atingindo “todos os princípios que inspiram a atuação policial”.

O inquérito havia sido aberto de ofício pelo presidente do STJ, Humberto Martins, para investigara atuação de procuradores da Lava-Jato. O novo diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, trabalhava com Martins e havia sido designado justamente para realizar as diligências desse inquérito, como revelou O GLOBO. A investigação foi suspensa pela ministra do STF Rosa Weber.

O ofício do delegado provocou mal-estar na cúpula da PF, que o considerou “excessivamente opinativo”, de acordo com fontes ouvidas pelo GLOBO. A direção da PF afirma que a substituição de Felipe Leal já estava prevista e não tem relação comesse assunto. O Serviço de Inquéritos (Sinq) é uma área estratégica da PF em Brasília por ser o setor responsável por investigações contra políticos que tramitam perante o STF e o STJ.

Embora a troca de equipes de comando seja considerada natural quando ocorre mudança do diretor-geral, delegados têm apontado vínculo entre o ofício do delegado Felipe Leal sobre os hackers e sua saída. O nome do novo chefe do Sinq, entretanto, foi bem recebido na PF, por ser considerado um delegado com experiência no combate à corrupção.