O Globo, n. 32028, 15/04/2021, Sociedade, p. 14

 

PF pede que STF apure se Salles cometeu crime ambiental

André de Souza

15/04/2021

 

 

O superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma notícia-crime para investigar o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por três delitos: dificultar a ação fiscalizadora do poder público no meio ambiente, exercer advocacia administrativa e integrar organização criminosa.

O delegado acusa mais duas pessoas, além de Salles: o presidente do Ibama, Eduardo Bim, e o senador Telmário Mota (PROS-RR). Segundo Saraiva, os três praticaram atos investigados no âmbito da Operação Handroanthus que podem constituir crime. Nessa operação, a PF no Amazonas realizou uma apreensão recorde de aproximadamente 200 mil metros cúbicos de madeira extraídos ilegalmente.

O senador Telmário Mota disse ao GLOBO que é o delegado que está agindo errado e questionou se ele estaria a serviço de alguma organização não governamental.

— O papel está invertido. Esse policial é um cara que está, ao arrepio da lei, criminalizando todo o setor madeireiro de Roraima. Já fecharam mais de 50 empresas, e mais de 16 mil trabalhadores foram para a rua. O que eu solicitei ao ministro da Justiça, ao ministro do Meio Ambiente, que sentasse ele, os produtores, e tivesse um protocolo único para os madeireiros trabalharem na legalidade. Não podemos criminalizar todos. E ele se recusou. Nós convocamos uma reunião em Roraima, ele recusou, pedimos uma reunião em Brasília, tivemos uma reunião com o ministro da Justiça, Polícia Federal, o ministro Salles e quatro senadores —disse o senador.

O GLOBO tentou contato coma assessoria de comunicação do Meio Ambiente para que pudesse se manifestar, mas os assessores não retornaram antes da conclusão desta reportagem.

“Em razão da magnitude dos resultados, apreensão de madeiras com valor estimado em R$ 129.176.101,60, o setor madeireiro iniciou a formação de parcerias com integrantes do Poder Executivo, podendo-se citar o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e o parlamentar Telmário Mota (PROS), no intento de causar obstáculos à investigação de crimes ambientais e de buscar patrocínio de interesses privados e ilegítimos perante a Administração Pública”, diz trecho do documento enviado pelo delegado.

De acordo com o delegado, o principal argumento utilizado por Salles e Mota, de que a documentação da madeira era regular, não se sustenta. O material apreendido, diz ele, é produto e fraude em razão da grilagem de terras.