Título: ''A articulação política é eficiente''
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 07/02/2005, País, p. A2

Entrevista / Eunício Oliveira

O cearense e atual ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, inspira-se na sabedoria política mineira, encarnada por Tancredo Neves, para expressar, pela primeira vez publicamente, sem rodeios ou meias palavras, seu desejo em ser candidato ao governo do Ceará em 2006. ¿ Como dizia doutor Tancredo, o homem público que diz que não deseja governar seu Estado, ou está enganando a opinião pública, ou não merece estar na política ¿ disse o ministro em entrevista ao Jornal do Brasil em seu gabinete.

Antes, porém, de consolidar o seu projeto político, Eunício, hoje dono da confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode alçar um vôo ainda mais alto no governo. Embora assegure não ter recebido nenhuma sinalização do presidente da República, o ministro permanece em alta nas bolsas de apostas para ocupar uma pasta mais robusta de verba e cargos na cota do PMDB na Esplanada dos Ministérios. A alardeada reforma, no entanto, ainda aguarda ansiosa o desenlace da eleição para a Mesa Diretora da Câmara, na qual Eunício nutre otimismo pelo triunfo do deputado e candidato do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh no primeiro turno.

Seu partido, o PMDB, ¿que, historicamente, não tem motivos para não estar na posição firme de sustentação ao governo¿, diz, contribuirá com 50 votos. Os que compreendem diferente, acredita, ¿devem fazê-lo por outros motivos que não os motivos de interesse do Brasil¿.

Cioso de integrar o governo, Eunício rasga elogios à área econômica e até a às vezes claudicante articulação dos operadores políticos do governo. Sobre a tentativa do ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, de filiar ao PMDB parlamentares ligados a ele a fim de promover uma mudança de comando do PMDB na liderança da Câmara, Eunício lançou mão da diplomacia para dizer que o ¿movimento não é construtivo para o país.¿ Foi mais enfático, porém, ao afirmar que há espaço no PMDB cearense para acomodar o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, caso ele resolva se filiar ao partido.

- É verdade que o senhor está deixando o Ministério das Comunicações por uma pasta mais robusta de verba e cargos?

- Não recebi nenhuma sinalização do presidente Lula nesse sentido. Enquanto merecer a confiança do presidente e do meu partido eu estou no Ministério das Comunicações. Compete ao presidente demitir, admitir os seus auxiliares. O ministro não é nada mais, nada menos, do que um auxiliar do presidente da República. Portanto, continuamos aqui a nossa vida de rotina.

- Quais os principais nós que o senhor teve de desatar no ministério desde que assumiu ?

Nós encontramos no ministério 76 mil processos. Nesse período que aqui estamos já trabalhamos com mais de 60 mil desses processos. Temos projetos que considero da maior importância como a TV Digital, a Inclusão Digital e o programa do Governo Eletrônico. Também temos os Correios que cresceram muito em volume de negócios no ano passado. Instalamos mais de 5 mil agências do Banco Postal. Dessas, cerca de 1.600 agências em localidades do Brasil que não tinham nenhum instrumento da área financeira, locais onde as pessoas, para receberem as suas aposentadorias, andavam até 150 km num pau-de-arara e ali já deixavam 20% do seu vencimento no transporte.

- Pela relação de atividades, não é justo então dizer que o Ministério das Comunicações é uma pasta amarrada por estar o poder muito concentrado nas mãos das agências reguladoras? Isso não a torna uma das menos cobiçadas por políticos ?

- Ele não é um ministério municipalista. Mas é um ministério importante que faz parte da questão de infra-estrutura do Brasil.

- O senhor disse que o presidente Lula não sinalizou qualquer tipo de mudança nas Comunicações. Mas e o PMDB, vai mesmo ampliar seu espaço na Esplanada?

- Lamentavelmente ocorreu aquela tentativa de uma convenção que terminou por dividir o PMDB. Mas é preciso lembrar que o PMDB sempre esteve muito próximo do pensamento do líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, quando ele se destacou como o sindicalista mais importante do Brasil e depois como um dos mais importantes do mundo. Na época da luta pelas diretas, o presidente Lula estava à frente e o PMDB estava junto nesse mesmo projeto. O presidente Lula encarna o sentimento da população brasileira, do desejo de crescimento sustentado e da preocupação com as questões sociais do país. Acabamos de chegar de uma viagem a Davos e sentimos muito orgulho de ver que as pessoas olhavam para a bandeira do Brasil que estava na nossa lapela e diziam: ''Brasil, parabéns, parabéns presidente Lula''. O PMDB não tem por que não estar nessa posição firme de dar sustentação ao governo. Os que compreendem diferente, devem fazê-lo por outros motivos que não os motivos de interesse do Brasil.

- Mas politicamente o PMDB espera ocupar mais espaço?

- Essa definição compete exclusivamente ao presidente. E o presidente Lula não abordou, pelo menos comigo, detalhes dessa possível reforma.

- O senhor pensa em ser candidato ao governo do Ceará em 2006?

- Dizia o doutor Tancredo que o homem que entra na vida pública e diz que não deseja governar seu Estado, ou está enganando a opinião pública, ou não merece estar na vida pública. Dizem que o homem público não guia o seu destino, é guiado por ele. Não posso negar que há um interesse e um movimento para que disputemos um cargo majoritário no Estado. Há um desejo pela disputa do cargo majoritário, embora ainda não seja uma definição.

- Em recente reunião no Planalto, ministros e o presidente Lula discutiram a possibilidade de se adotar um critério na reforma de não incorporar ao governo, para evitar a descontinuidade administrativa, candidatos que terão de se desincompatibilizar em abril de 2006. Como o senhor avalia isso ?

- Não participei dessa reunião nem tomei conhecimento dela. Então, sob hipóteses, é difícil fazer qualquer tipo de avaliação.

- É corrente na Esplanada os ministros reclamarem dos cortes do Ministério da Fazenda. O senhor também integra essa lista?

- Não. Se esses cortes se efetivam, não são na minha área. Nunca fiz nenhuma reclamação sobre as condições de trabalho. As circunstâncias que às vezes obrigam o governo a fazer contingenciamentos são apenas temporárias e para cumprir a lei.

- O senhor ressaltou os resultados da política econômica do governo. E a articulação política do governo, o senhor não acha que, muitas vezes, patina?

- Não vejo dessa forma, até porque fui líder junto com o ministro Aldo Rebelo, quando ele era líder do governo e ele fez um excelente trabalho de articulação para que as reformas pudessem ser aprovadas. A articulação política não é fácil de ser feita, porque a base é heterogênea. É preciso eficiência para fazer com que uma base tão heterogênea tenha tido tantos sucessos. É necessário que se ressalte também a coordenação muito cordial e competente que faz o ministro da Casa Civil José Dirceu em relação a essas questões de governo, administrativas, de gerenciamento das ações.

- O surgimento de uma candidatura avulsa no seio do próprio PT contra o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), candidato escolhido pela bancada, não expôs uma falha na coordenação política ?

- Sobre a eleição na Câmara acho que, se o tradicional critério da proporcionalidade dos partidos não for respeitado, não for mantido, não será uma coisa boa para a Casa. Os líderes precisam ser fortalecidos. O PMDB vai cumprir a proporcionalidade, vai colocar os votos majoritariamente no nome indicado pelo partido majoritário, no caso o deputado Luís Eduardo Greenhalgh do PT, porque compreendemos que esse é o processo adequado.

- O senhor acha então que em nome dos acordos na Casa, em nome do princípio da proporcionalidade, Greenhalgh vence?

- Não tenho dúvida de que, no momento da votação, vai prevalecer o voto em Greenhalgh.

- Greenhalgh vence no primeiro turno?

- Se o princípio é o da proporcionalidade e se depender dos votos majoritários do PMDB, nós vamos vencer as eleições no primeiro turno.

- Quantos votos do PMDB vão para o Greenhalgh?

- O PMDB tem uma bancada de 77 deputados. Quando nós fizemos a eleição do líder José Borba por assinatura, nós tivemos 56 assinaturas. O nosso trabalho é para que a gente consiga colocar todos os votos que foram colocados na assinatura para o líder Borba para Greenhalgh. Tenho certeza que o PMDB não sairá dessa eleição com a contribuição menor do que 50 votos.

- Como o senhor avalia a tentativa do ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, de filiar no PMDB alguns parlamentares ligados a ele a fim de promover uma mudança de comando do PMDB na liderança da Câmara?

- Tenho 52 anos de idade e 33 anos de filiação ao MDB e ao PMDB. Tenho uma tradição familiar de emedebistas e pemedebistas. Movimentos que não visem os interesses do país, o fortalecimento do PMDB, não são construtivos, do meu ponto de vista. Movimentações políticas circunstanciais não são construtivas do ponto de vista dos reais interesses da sociedade brasileira.

- O PMDB do Ceará é pequeno para o senhor e para o ministro Ciro Gomes?

- Não, o PMDB do Ceará tem a tradição de ser um partido forte. O governador Tasso Jereissati, quando se elegeu governador a primeira vez, foi pelo PMDB. O ministro Ciro Gomes foi prefeito de Fortaleza pelo PMDB. Portanto, não vejo nenhuma dificuldade. Pelo contrário. O ministro, se vier para o PMDB, engrandecerá o PMDB do Ceará e obviamente o PMDB do Brasil.