O Globo, n. 32028, 15/04/2021, Mundo, p. 28

 

Plano para a Amazônia permite alta taxa de desmatamento

Renato Grandelle

15/04/2021

 

 

A uma semana da Cúpula de Líderes sobre o Clima, organizada pelo presidente americano, Joe Biden, o governo federal apresentou ontem o Plano Amazônia 2021/2022, que visanor tear a conservação do bioma nos próximos dois anos. O programa, no entanto, não apresenta dados sobre o efetivo e orçamento necessários para cumprir seu objetivo, que é considerado pouco ambicioso—afinal i da deé reduzira taxa de desmatamento a até 8,7 mil km ², valor 16% superior ao de 2018, último ano antes da eleição de Jair Bolsonaro.

O plano é assinado pelo vice-presidente Hamilton Mourão, que lidera o Conselho Nacional da Amazônia Legal. As Forças Armadas, que desde 2020 fiscalizam e combatem o desmatamento e as queimadas, encerrarão suas operações no dia 30. Ambientalistas temem que o Ibama e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que estão sucateados, não consigam coibir as atividades ilegais na floresta.

REDUÇÃO ORÇAMENTÁRIA

O programa determina que órgãos como o Ministério do Meio Ambiente, Funai e Força Nacional de Segurança Pública tomem medidas como avaliar o remanejamento de servidores e a contratação temporária de pessoal para atuar na Amazônia, o que dependeria do Ministério da Economia.

Isso não é um plano, é uma carta de despedida do Mourão da Amazônia. Precisamos saber se já era conhecido pelos ministérios — avalia Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Este texto só está sendo publica dopa raque o governo diga na cúpula do clima que está fazendo alguma coisa pela Amazônia.

Bolsonaro enviou carta a Biden comprometendo-se a eliminar o desmatamento ilegal no Brasil até 2030, mas ligou tal objetivo a apoio financeiro internacional. A atual proposta orçamentária prevê uma redução de 29,1% do orçamento do Ibama e de 40,4% do ICMBio para 2021, em relação aos valores de 2019. Os cortes restringem o poderio dos órgãos às vésperas da estação seca, quando há mais queimadas.

Coordenadora da Campanha de Clima do Greenpeace, Fabiana Alves considera que o Plano Amazônia é “vergonhoso” e tem meta “pouco ambiciosa” para redução do desmatamento.

“Trata-se demais um plano vazio que demonstra uma tentativa desesperada de receber recursos externos sem, de fato, se comprometerem conter as mudanças climáticas ”, critica, em nota.

O plano institui que a taxa de desmatamento seja reduzida em 2022 até a média histórica do Prodes, programa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, entre 2016 e 2020: 8,7 mil km². Trata-se de um período em que a devastação da Amazônia acelerou rapidamente. Por isso, sua utilização como referência no novo plano é criticada.

Procurados pelo GLOBO, Mourão e o ministério do Meio Ambiente não responderam, e o da Economia disse não ter sido ainda consultado sobre o Plano Amazônia 2021/2022.