O Globo, n. 32028, 15/04/2021, Mundo, p. 28

 

UE cobra do Brasil mais ambição em metas para o clima

Eliane Oliveira

15/04/2021

 

 

Brasil e União Europeia (UE) mostraram ontem divergências em relação às políticas para lidar com a mudança do clima. Em um encontro virtual, enquanto o comissário da UE para o Meio Ambiente, Oceanos e Pesca, Virginijus Sinkevicius, cobrou medidas do governo brasileiro para que o país reduza o desmatamento e volte a ganhar credibilidade internacional, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, desafiou as autoridades europeias a apresentarem metas mais ambiciosas para mitigar os efeitos da elevação da temperatura da Terra.

— A União Europeia e a comunidade internacional esperam que o Brasil mostre mais ambição, tanto na questão do clima como em biodiversidade —disse Sinkevicius.

O comissário europeu lembrou que o Brasil era um dos países mais ambiciosos, mas acabou decepcionando os parceiros internacionais em seu último compromisso voluntário, assumido em dezembrode 2020 no âmbito do Acordo de Paris sobre o clima. Na época, o país anunciou a meta de redução de 43% das emissões de gases de efeito estufa em 2030 e a perspectiva de neutralidade de carbono na economia apena sem 2060— a UE e os EUA se comprometeram a eliminar as emissões de todos os gases de efeito estufa até 2050. Para ele, foi pouco.

Salles rebateu. Disse que as emissões do Brasil representam menos de 3% do total, enquanto a taxa da UE é de 14%. Citou a matriz energética brasileira, considerada uma das mais limpas, e destacou que a lei ambiental do paí sé amais rígida do planeta. E cobrou mais recursos dos países ricos.

Em carta ao presidente Joe Biden, dos EUA, que convocou uma cúpula sobre o clima, o presidente Jair Bolsonaro disse que é possível o Brasil adiantar para 2050 suas metas de neutralidade de carbono na economia “caso seja possível viabilizar recursos anuais significativos, que contribuam nesse sentido”.

O chanceler Carlos França reforçou o argumento.

—Apelamos a outros países para que cumpram também os seus compromissos, não só no que diz respeito à mitigação, mas também ao financiamento climático e aos meios de implementação.