Correio Braziliense, n. 21.142, 13/04/2021. Cidades, p. 26

 

Entrevista - Gustavo Romero: "Restringir atividades no DF é crucial"

Gustavo Romero

Larissa Passos

13/04/2021

 

 

Em entrevista ao programa CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília — o pesquisador do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade de Brasília (UnB) Gustavo Romero defendeu a adoção de medidas restritivas de modo mais “categórico” no país e no Distrito Federal. O diretor da Faculdade de Medicina da UnB ressaltou ao jornalista Alexandre de Paula, ontem, o papel que a ampla vacinação contra a covid-19 tem para evitar a sobrecarga do sistema de saúde e mais mortes. Confira os principais trechos:

A vacinação contra a gripe começou para grupos prioritários. Como ela pode ajudar neste momento?

(A vacinação) é muito útil, aliás. A segunda recomendação é de seguir as instruções das autoridades sanitárias. Se elas definiram que os grupos A, B, C e D são os primeiros a tomar a vacina (contra a gripe), é porque, muito provavelmente, eles são os que teriam maior probabilidade de morrer caso ficassem infectados. As pessoas têm de ser vacinadas porque esse seria o gesto mais solidário com as outras pessoas que, eventualmente, não tiveram acesso à vacina, vão pegar a doença, podem ficar graves e vão precisar de um leito no hospital. Se uma pessoa que tem acesso à vacina contra a influenza não se imunizar contra a gripe, contraí-la, ficar grave e concorrer pelo mesmo leito, isso não faz sentido.

Em relação à vacina contra a covid-19, como ela funciona e qual tipo de proteção oferece?

Todas essas vacinas que foram desenvolvidas até agora colocaram o objetivo principal de evitar uma doença grave, que a pessoa fosse internada, precisasse de UTI (unidade de terapia intensiva) e que morresse. É evidente que o objetivo desejável fosse uma vacina que pudesse bloquear a transmissão, para que as pessoas vacinadas não fossem suscetíveis à infecção e não pudessem passar o vírus para terceiros. Mas isso vai ser investigado. Ainda há muitas perguntas não respondidas. Os grandes produtores da vacina hoje investigam isso, até que ponto elas impedem ou inibem significativamente a transmissão entre pessoas. O que sabemos é que as pessoas vacinadas podem se infectar e, uma vez infectadas, algumas poderão transmitir (o vírus) para terceiros. A vantagem é que elas não adoeceram de forma grave e, se adoecerem, ficarão com formas leves (da covid-19). Até agora, todos os estudos têm mostrado que quase 100% das pessoas vacinadas não têm a doença grave, não precisam de hospitalização, ser levadas para a UTI e não morrem.

Isso reforça a necessidade de que quem se vacinou continue a seguir as medidas de segurança, não?

Exatamente. Estar vacinado não significa não ter de usar medidas não farmacológicas de prevenção: lavar as mãos com frequência, usar álcool em gel e, principalmente, máscara. E respeitar as medidas de distanciamento social fazemos aqui. É um rito que todo mundo vai manter, estando vacinado ou não. Quem está vacinado tem o privilégio de ver reduzido o risco de adoecer. No entanto, a pessoa tem obrigação ética e moral de proteger os outros. Quando ela se protege, protege terceiros que ainda não se vacinaram. Isso é uma mensagem que deveria permanecer.

 

A OMS citou ontem que a situação do Brasil será dificilmente controlada só com a vacina e que outras medidas precisam ser adotadas. É nesse sentido que o senhor fala?

A vacinação é uma das ações. As (outras são) medidas de distanciamento social, físico, de higienização pessoal e de ambiente, etc. É importante investir no transporte público, para que seja suficiente e que o distanciamento dentro dele seja uma realidade — o que não estamos vendo necessariamente e é muito importante. Quando se chega a uma situação tão trágica — o que estamos vivendo no Brasil e ninguém imaginaria que o Distrito Federal passaria pelo aperto que passa hoje —, algumas medidas mais rigorosas são necessárias. Nós tivemos a oportunidade de manifestar publicamente que a necessidade de restringir as atividades de maneira mais categórica aqui no DF é crucial para revertermos o quadro de hoje.

O que podemos dizer para as pessoas, para convencê-las de que a vacina é necessária e segura?

A primeira coisa que temos de dizer é que o processo de desenvolvimento das vacinas foi conduzido com todos os cuidados e aprovados em todas as instâncias que protegem desde a saúde da população brasileira aos produtos disponíveis para a vacinação. Eles são seguros e devem ser usados conforme as indicações que os profissionais de saúde deem. A palavra segurança em relação a esses produtos é muito importante, porque as pessoas devem confiar que o sistema está desenhado para aprovar produtos que considerarem seguros. Faz-se um trabalho muito profissional, de elevada qualidade e, por isso, as vacinas estão à disposição hoje.