O Globo, n. 32029, 16/04/2021, País, p. 11

 

Renan Calheiros deve relatar CPI da Pandemia

Julia Lindner

16/04/2021

 

 

 

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) tem o apoio da maioria dos integrantes da CPI da Pandemia para ocupar o cargo de relator da investigação. Crítico ao governo Jair Bolsonaro, ele conta com o respaldo de seis dos 11 integrantes da comissão, segundo relatos feitos ao GLOBO. Na função, caberia a Renan dar o rumo aos trabalhos e produzir o texto final, que pode ser encaminhado ao Ministério Público e a outros órgãos de controle.

Na noite de anteontem, um dia após a criação do colegiado, metade dos indicados para a comissão se reuniram para tratar da presidência e da relatoria. Estiveram presentes Renan Calheiros, Eduardo Braga (MDB-AM), Otto Alencar (PSD-BA), Humberto Costa (PT-PE), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Tasso Jereissati (PSDB-CE). No encontro, concluíram que Renan teria os votos necessários para assumir a relatoria, apesar da resistência de governistas, que são minoria.

Apesar disso, o grupo majoritário, formado por oposicionistas e independentes, enfrenta um impasse para fechar um acordo sobre quem será o presidente da CPI, que, por sua vez, é o responsável por indicar o relator. O principal cotado é o senador Omar Aziz (PSD-AM), que faz parte da segunda maior bancada da Casa, mas a opção ainda não é consensual. Para evitar um oposicionista declarado, o governo também trabalha pelo nome de Aziz nos bastidores.

— Estamos conversando para que no dia da sessão para eleição de presidente e relator nós possamos mostrar o equilíbrio do Senado para que a gente possa trazer uma luz no fim do túnel para a população. Porque, se a gente chegar lá e um grupo é pró fulano, um grupo é pró sicrano, isso aí não vai dar certo —disse Aziz ao GLOBO.

Além dele, há outros nomes na disputa pela presidência. Entre os membros da comissão, são apontados como opções Otto Alencar e Tasso Jereissati. O senador Randolfe Rodrigues, autor do requerimento de criação da CPI, também pleiteia a vaga, mas tem menos chances. Em gravação divulgada pelo senador Kajuru (Cidadania-GO), o presidente Jair Bolsonaro falava em “sair na porrada” com Randolfe, o que faria com que sua escolha fosse considerada uma afronta ao Planalto, algo que parlamentares independentes desejam evitar, por ora.

EX-MINISTROS NA CPI

Governistas tentavam evitar também que Renan ocupasse um dos cargos principais da comissão, mas já consideram que neste caso será difícil reverter o encaminhamento que vem sendo dado pela maioria. O Senado oficializou ontem a composição da CPI com a leitura em plenário dos indicados. A expectativa é de instalação dos trabalhos na próxima semana.

Em entrevista ontem, Randolfe defendeu a convocação de todos os ex-ministros da Saúde do governo Bolsonaro: Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello.

Antes da audiência com os ex-titulares da pasta, o senador reforçou a estratégia da oposição de ouvir inicialmente especialistas, em sessões que devem ocorrer no sistema remoto. Uma das questões que o senador quer abordar na CPI é a eficácia da hidroxicloroquina contra a Covid-19. Sem comprovação científica, o uso do medicamento foi defendido reiteradamente pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo Ministério da Saúde, na gestão Pazuello.

Omar Aziz é o nome mais cotado para presidir a comissão, mas não há consenso