Título: Casais já querem doar embriões
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 04/03/2005, Internacional - Ciência, p. A9

Aprovação da lei de Biossegurança leva primeiros interessados a procurarem clínicas de reprodução

Especialistas comemoraram a aprovação, quarta-feira, da Lei de Biossegurança pela Câmara do Deputados, que vai garantir ao país um avanço mais rápido nas pesquisas sobre a cura de doenças usando células-tronco retiradas de embriões humanos. Como reflexo da decisão, que ainda precisa da sanção presidencial, centros especializados em reprodução humana já começaram a receber, ontem mesmo, as primeiras consultas de casais querendo doar embriões.

Na clínica do especialista em reprodução humana Roger Abdelmassih, em São Paulo, pelo menos três casais telefonaram ontem, interessados em saber como proceder.

- As pessoas que me procuram são as que usaram o método de fertilização in vitro e já conseguiram ter filhos. Dos cinco ou seis embriões saudáveis originados da fertilização sempre sobram os que não são implantados no útero e ficam congelados. São esses que os casais querem doar - explica o médico.

Para Abdelmassih, a procura específica é um indicativo do tamanho da repercussão que a nova lei terá.

- Mostra que a população brasileira está sensibilizada com a questão das células-tronco - acrescenta.

Os embriões utilizados nas experiências com células-tronco são os que têm cinco dias, quando ainda são um amontoado de células, e ainda não formaram o seu sistema nervoso. Uma vez que as células são aplicadas em áreas lesionadas, rapidamente assumem o papel de regeneradoras.

O congelamento dos embriões excedentes da fertilização in vitro é uma obrigação. Segundo outro especialista em reprodução, Luiz Fernando Dale, é proibido por lei descartá-los. Como alguns casais não pretendem usá-los, devem ficar armazenados por tempo indeterminado e se acumulam nas clínicas. Poderão, agora, ser utilizados para pesquisas de doenças como leucemia, diabete, problemas cardíacos e até paralisias.

- A princípio pode se considerar um horizonte enorme. Não dá nem para imaginar o que será possível num futuro próximo - afirma Dale, explicando porque as células de embrião são mais adequadas que as que já são usadas. A legislação permite pesquisas com as células-tronco adultas, retiradas do cordão umbilical ou da medula óssea.

- Quando se faz um transplante de rim, por exemplo, a pessoa toma um remédio para que seu próprio sistema imunológico não ataque as células estranhas. As células embrionárias eliminam o risco de rejeição por não terem o antígeno de histocompatibilidade que reage quando o organismo entra em contato com algo estranho a ele. - explica.

Para Dale, a segunda grande vantagem é que as células-tronco embrionárias ainda estão em estado de diferenciação celular, por isso apresentam grande possibilidade de se diferenciar em células de diversos tecidos.

O médico conta que um de seus pacientes, sem problemas de saúde e com um filho, o procurou para fazer fertilização in vitro. O objetivo era o de guardar embriões para uma reserva de células-tronco de seu organismo para o futuro, como garantia em caso de doença na família.

- A área de reprodução vai fornecer a matéria-prima e a união dos grupos científicos de patologia e embriologia, entre outros - é que vai produzir essas maravilhas que estamos esperando - encerra Dale.