O Globo, n. 32029, 16/04/2021, Mundo, p. 26

 

EUA impõem novas sanções econômicas à Rússia 

16/04/2021

 

 

O governo de Joe Biden anunciou, ontem, a imposição de uma série de sanções contra a Rússia, acirrando ainda mais as tensões entre Washington e Moscou. As medidas, que incluem restrições à compra de títulos recém-emitidos da dívida russa, têm por fim punir o Kremlin pelo que a Casa Branca afirma ter sido um ataque cibernético contra empresas e agências americanas e pelas supostas tentativas de influenciar as eleições presidenciais de 2020. Horas depois, no entanto, Biden disse ter afirmado a Putin que “chegou a hora da desescalada”.

BIDEN: REAÇÃO EQUILIBRADA

As novas restrições, as mais contundentes impostas a Moscou até o momento, miram 32 empresas e indivíduos, entre eles funcionários do governo e da Inteligência russa. O governo americano também expulsou 10 funcionários da missão diplomática russa em Washington, afirmando serem agentes da Inteligência.

A partir de 14 de junho, instituições financeiras americanas ficarão impedidas de comprar novos títulos de dívida emitidos pelo Banco Central Russo, pelo Ministério da Economia e pelo fundo do Tesouro do país. Na expectativa das medidas, o rublo teve a maior queda desde dezembro ontem, com perdas de 1,4%.

Funcionários americanos alegam que as sanções refletem uma tentativa do governo de equilibrar punições ao Kremlin por atitudes passadas sem provocar uma deterioração ainda mais profunda da relação bilateral. Em pronunciamento, Biden afirmou que agiu de forma proporcional às ações russas, e que o momento é de evitar uma escalada das tensões.

— Fui claro com o presidente Putin de que poderia ter ido além, mas escolhi não fazê-lo — afirmou o presidente, referindo-se à conversa telefônica com o líder russo, na terça-feira.

Após o anúncio americano, porém, a Chancelaria russa disse ser “inevitável” que Moscou responda às sanções e convocou o embaixador americano, John Sullivan, para uma “reunião que não será agradável para ele”.

— Alertamos os EUA diversas vezes sobre as consequências de seus passos hostis, que elevam perigosamente a temperatura do confronto entre os dois países —disse a portavoz Maria Zakharova. — Tal comportamento agressivo sem dúvida receberá uma refutação contundente (...). A responsabilidade pelo que está acontecendo é inteiramente dos EUA.

Os dois países acirraram os embates retóricos emmeio ao aumento da presença militar russa perto da fronteira coma Ucrânia ena Crimeia, no Mar Negro, anexada pelo Kremlin em 2014, depois que um governo pró-Ocidente chegou ao poder em Kiev. Em resposta a isso, os americanos se juntaram a União Europeia, Reino Unido, Austrália e Canadá para impor punições a oito pessoas e entidades associadas à anexação da Crimeia.

Na conversa com Putin na terça, Biden chamou o russo para uma reunião bilateral em breve. O americano afirmou acreditar que o encontro ocorrerá, sendo uma oportunidade para “lançar um diálogo sobre uma estabilidade estratégica” entre as duas nações.

As sanções que impedem que investidores americanos comprem títulos da dívida russa em rublo eram vistas como uma “opção nuclear” nos mercados financeiros, onde esses títulos são chamados de OFZ, uma popular forma de investimento. Cerca de um quinto deles, que somam cerca de US$ 37 bilhões, estão hoje nas mãos de estrangeiros.

No entanto, as medidas econômicas não devem ter impactos significativos para a capacidade de o governo russo se autofinanciar, segundo analistas ouvidos pela Bloomberg, já que os bancos estatais têm condições de amortecer boa parte do impacto.

QUATRO ÁREAS DE AÇÃO

O governo de Biden já planejava as sanções. Em seu primeiro dia de governo, em janeiro, o presidente americano havia ordenado uma análise sobre quatro áreaschave que dizem respeito à Rússia: a suposta interferência no pleito de 2020; relatos de que Moscou oferecia recompensas por soldados americanos mortos no Afeganistão; o envenenamento quase fatal do líder opositor russo Alexei Navalny; e o ciberaque a nove agências federais e cerca de 100 companhias que usavam o software da empresa SolarWinds. Todas as acusações são veementemente negadas por Moscou.