Título: Alerta ambiental em Volta Redonda
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 07/02/2005, País, p. A5
Investigação encomendada pela CSN detecta altos índices de contaminação do solo em duas áreas do município
BRASÍLIA - Uma investigação ambiental encomendada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) encontrou altos índices de contaminação do solo no Aterro Volta Grande e no Bairro Volta Grande IV - onde residem milhares de famílias - em Volta Redonda (RJ). Na área onde ficam as residências, toneladas de resíduos industriais foram despejadas pela CSN, até 1999. A empresa foi privatizada em abril de 1993. A investigação, realizada pela empresa Waterloo Brasil, não satisfez, no entanto, ambientalistas e autoridades do Ministério Público, que não acreditam em alguns resultados de uma análise encomendada pela própria CSN.
A Defensoria da Água - organização que reúne representantes do Ministério Público, Universidade Federal do Rio de Janeiro e Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - começa agora a elaborar um laudo independente.
As análises feitas pela Waterloo quantificaram a presença de até 37,2 partes por bilhão (ppb) de benzeno no solo da área contaminada, nível acima do limite de intervenção (ponto crítico) utilizado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo (Cetesb), de 5 ppb.
O estudo afirma que as análises demonstraram que o composto naftaleno apresenta níveis abaixo do momento de intervenção recomendado pela Cetesb.
Há poços, no entanto, com a presença de até 3.203 ppb de naftaleno, enquanto o limite de intervenção da Cetesb é de 100 ppb.
O estudo da Waterloo, ao considerar eventual uso de água subterrânea em Volta Grande IV, admite que a ingestão, o contato dermal com água subterrânea no chuveiro ou a inalação de vapores no chuveiro, trazem risco à saúde humana ''tanto para compostos carcinogênicos como para não carcinogênicos''. Leia-se câncer.
O mesmo estudo, no entanto, considera o contato com a água ou com vapores como um ''cenário hipotético futuro''. A contaminação do solo por altos níveis de elementos cancerígenos ocorre a partir de 1,3 metro de profundidade no solo de Volta Grande IV.
O procurador da República Steven Zwicker, que acompanha as investigações sobre contaminação do solo na região, afirmou que o Ministério Público tem dificuldades técnicas para fiscalizar este tipo de caso. Ele espera que a Defensoria da Água termine logo a análise independente. O estudo feito pela Waterloo, a pedido da CSN, não é reconhecido como trabalho sério pelo MPF.
- O estudo é imprestável - diz o procurador.
Por enquanto, a saída encontrada pelo MPF na região é a de negociar exaustivamente com a CSN as soluções que atendam aos anseios da população. O estudo da Waterloo foi apresentado em audiência pública no fim do ano passado para a população. Mas ficaram mais dúvidas que respostas. Os técnicos da Waterloo não soubem explicar os efeitos na saúde humana, por exemplo, do simples plantio de uma árvore no solo contaminado.
Um dos ''investigadores'' da Waterloo que fez o estudo a pedido da CSN, Pedro Pessoa Dib, se negou a explicar trechos do documento. Ele afirmou que eventuais dúvidas devem ser dirigidas à própria CSN, dona do estudo.
A assessoria de imprensa da CSN informou que a empresa identificou o problema e vem trabalhando para resolvê-lo, ''de forma transparente para as autoridades e para a população''. A CSN informou que as casas do aterro são servidas pela rede pública de abastecimento e garantiu que não há risco de consumo de água subterrânea ou qualquer tipo de contaminação.
A CSN avisou que desde 2002 vem atuando na remediação do problema da contaminação no aterro e tomou providências após a divulgação do laudo da Waterloo. ''A CSN está providenciando a instalação de uma bomba adicional'' para a descontaminação do aterro, informa a assessoria de imprensa.
O mesmo estudo da Waterloo, diz a CSN, mostra que o sistema de remediação está sendo efetivo ao longo do tempo.
A CSN informou ainda que a população já foi plenamente informada sobre os riscos e que não há possibilidade de inalação de vapores nos chuveiros. Quanto ao plantio de árvores em Volta Grande IV, a CSN informou que, considerando um tempo de exposição ''muito pequeno'' de um indivíduo durante o ato de cavar e plantar uma árvore, ''podemos afirmar que o risco não existe para esta atividade''.
O representante da Defensoria da Água, Leonardo Morelli, informou que a organização está enviando a Volta Grande IV uma equipe de especialistas em contaminação de solos para elaborar um estudo independente. Morelli afirmou que a Defensoria da Água está disposta a ir até Nova York para pedir a suspensão da comercialização das ações da CSN em bolsa de valores, caso a empresa não exponha de forma clara todo o seu passivo ambiental no balanço.
No ano passado, a Defensoria da Água elaborou um estudo sobre a contaminação dos moradores de áreas vizinhas do Aterro Mantovani, em Santo Antonio de Posse (SP), próximo de Campinas, onde 50 indústrias despejaram 500 mil toneladas de lixo tóxico por três décadas, contaminando o lençol freático.
O Ministério Público e a Polícia Federal já estão investigando a contaminação, para responsabilizar os culpados e no futuro permitir a indenização das vítimas. A primeira providência do MP foi determinar o fechamento de poços contaminados.