O Globo, n. 32031, 18/04/2021, País, p. 6

 

Na mira da CPI, Pazuello deve ganhar cargo no Planalto

Jussara Soares

Dimitrius Dantas

18/04/2021

 

 

Ex-ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello deve ganhar nos próximos dias o comando da Secretaria Especial de Modernização do Estado (Seme). Ontem, em uma demonstração de confiança no militar que deve ser um dos principais alvos da CPI da Pandemia, Bolsonaro levou o ex-ministro em uma viagem ao interior de Goiás, onde, sem máscara, causou aglomeração apesar de o país registrar diariamente mais de 3 mil mortes. A secretaria de Modernização é subordinada à Secretaria-Geral da Presidência, chefiada pelo ministro Onyx Lorenzoni, e atualmente tem à frente o procurador da Fazenda Nacional, Sérgio Augusto de Queiroz. Se confirmado no cargo, ele passará a despachar no Palácio do Planalto.

A expectativa é que a nomeação seja publicada nos próximos dias no Diário Oficial da União. Segundo fontes de governo, a Seme foi a solução encontrada para abrigar Pazuello, que deixou o Ministério da Saúde no dia 23 de março. Sem encontrar um cargo para o ex-ministro imediatamente, o general acabou retornado às suas funções no Exército, mas com a promessa do presidente de que voltaria ao governo.

De acordo com o colunista Lauro Jardim, Pazuello tem despachado mais com Bolsonaro do que muito ministro. Na quarta-feira, fora de agenda, ele reuniu-se com o presidente no Palácio do Planalto. Entre alguns assessores de Bolsonaro, o exministro é chamado de “general zumbi”. Inicialmente, chegou a ser cogitado entregar um ministério para que Pazuello mantivesse o foro privilegiado, o que gerou disputa no governo. Outros cargos também foram considerados para dar uma “saída honrosa” para o ex-ministro, o que não ocorreu também devido a resistências internas. A secretaria especial não dá direito a foro privilegiado. O ex-ministro responde a um inquérito que apura a responsabilidade na crise na saúde pública de Manaus, que registrou falta de oxigênio medicinal em hospitais em janeiro

O inquérito corria inicialmente no Supremo Tribunal Federal (STF), mas no dia 24 de março o ministro Ricardo Lewandowski determinou o envio do processo para a primeira instância após Pazuello ter sido demitido. A defesa do ex-ministro, no entanto, segue sendo feita pela Advocacia-Geral  da União. O Ministério Público Federal do Amazonas aponta omissão de Pazuello durante o caos que se instalou na saúde pública do estado em janeiro. Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), apresentado em plenário na última quarta-feira, também lista uma série de erros de gestão de Pazuello enquanto esteve à frente do Ministério da Saúde. O anúncio da demissão de Pazuello foi feito por Bolsonaro

no dia 15 de março em meio à escalada de mortes pela Covid-19. O atual ministro da Saúde, o médico Marcelo Queiroga, chegou ao governo com discurso pró-ciência e pedindo que a população use máscara e mantenha o distanciamento social. A recomendação foi contrariada mais uma vez pelo presidente ontem ao visitar a cidade de Goianópolis, a 160 quilômetros de Brasília, ao lado de Pazuello e do ministro da Defesa, Walter Braga Netto. No local, Bolsonaro cumprimentou apoiadores, alguns deles também sem máscara, incluindo idosos e crianças. A viagem do presidente ocorre no momento em que o país tem superado, diariamente, 3 mil mortes por Covid-19. Na última semana, governadores e prefeitos cobraram do governo federal a entrega de remédios do chamado “kit intubação”, utilizado em pacientes que precisam de respiradores mecânicos.