O Globo, n. 32031, 18/04/2021, Economia, p. 33

 

Um novo consenso se desenha em Washington?

Cássia Almeida

Claudia dos Santos

18/04/2021

 

 

Apandemia acelera mudanças na política econômica dos países ricos e no discurso de organismos multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. A receita de austeridade dá lugar aprioridades como redução da desigualdade com mais emprego, proteção ao meio ambiente e investimento forte do Estado. Em momentos de crise, é comum apressão pelou sode recursos públicos. Masa atual receita anticrise reflete a maior pressão social dos que não tiveram ganhos em qualidade de vida ou renda com apolítica de corte de investimento público e de impostos corporativos. Temas como gasto público e taxação de empresas têm aparecido com mais frequência nas vozes de Kristalina Georgieva, di retora-gerente do FMI, e de Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, a maior economia do mundo. Há pouco tempo, ocupantes dessas cadeiras defenderiam a rota de disciplina fiscal, abertura comercial e economia de mercado. Esse conjunto de políticas foi costurado na passagem de Ronald Reagan pela Casa Branca, nos anos 1980, e o economista John Williamson, morto na semana passada, o chamou de Consenso de Washington.

—Não há mais Consenso de Washington, à medida que os EUA passam de uma política “América primeiro” (lema de Donald Trump) para a política “americanos primeiro”—afirmou ao GLOBO o presidente da consultoria americana Eurasia, Ian Bremmer.

Para ele, o papel do Estado vai crescer diante da evidência de que a Covid afetou mais os pobres, aprofundando a desigualdade, e de que o avanço da tecnologia agravou o desemprego:

— A seguridade social precisa de mais investimento. O economista Samuel Pessôa, da Fundação Getulio Vargas (FGV), considera o pacote de US$ 2 trilhões em investimentos em infraestrutura com forte aumento de impostos corporativos do presidente americano Joe Biden “uma mudança de rota no navio que vinha desde os anos 1980”:

— Há um debate sobre em que medida as políticas que começaram no governo Reagan explicam parte do aumento da desigualdade. O argumento era que reduzir impostos estimularia crescimento, aumentando a demanda por trabalho. Isso não ocorreu. Estamos há 40 anos esperando. Carlos Primo Braga, professorda Fundação Dom Cabral e que foi diretor de Política Econômica do Banco Mundial, não vê consenso em torno de uma política fiscal mais ativa, mas reconhece a tendência de colocarem xeque hipóteses do Consenso de Washington.

— Há mais ênfase na questão fiscal em países que são emissores de reserva internacional, como EUA. Na Argentina, no Brasil, é complicado faze ressa proposição. Já estamosno Brasil coma inflação se deslocando das metas. Esse jáéo temor de Larry Summers, ex-secretário do Tesouro nos EUA: ele diz que o pacote de Biden é excessivo eque vai gerar inflação. Economistas dizem queé difícil transpores se modelo para o Brasil, diante do aumento da dívida pública e do déficit primário, que já ultrapassa 9% do PIB. Para eles, há pouca margem para ampliar despesas. O caminho seria rever e reorganizar o gasto público.

O FMI na última semana voltou a defendera taxação de grandes corporações para financiar oc om bateà pandemia e reduzira desigualdade.

— É um problema de taxação das grandes empresas no mundo desenvolvido, que mudamo domicílio tributário para localidades de imposto menor. Oobjetivoé que os países cheguem a um acordo. FMI e Banco Mundial estão José Scheikman, professor da Universidade de Columbia.

TESTE DE POLÍTICA

O economista Otaviano Canuto, ex-diretor executivo do FMI, observa que, desde acrise financeira global de 2008, havia apercepção de que as nações usaram pouco apolítica fiscal para ativara economia:

— Outra visão ganha força sobre a necessidade de se fazer algo contra a mudança climática, te rolho para aparte debaixo da pirâmide, para diferenças étnicas e raciais. Pessôa se diz curioso em relação ao resultado da política econômica de Yellen:

—Ela tem muita coragem. É um programa que aceita um pouco de inflação para levar o setor privado a trazer desalentados de volta ao mercado de trabalho.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) recebe reclamações sobre problemas com planos e seguros-saúde. A queixa pode ser feita pelo Disque-Saúde (0800-701-9656) ou pelo site www.ans.gov.br