O Globo, n. 32015, 02/04/2021, País, p. 7

 

Bolsonaro diz que não decidiu se tomará vacina

Bruno Goés

Fernanda Trisotto

02/04/2021

 

 

O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que decidirá se será ou não vacinado após “o último brasileiro” ser imunizado. Com 66 anos de idade, o presidente poderia se vacinar a partir de sábado, segundo o cronograma do governo do Distrito Federal. A decisão do presidente de não se vacinar, mesmo cumprindo os critérios da campanha nacional de imunização contra a doença, destoa da dos demais líderes mundiais, mesmo entre aqueles que são seus aliados.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, por exemplo, já recebeu as duas doses do imunizante da Pfizer. Os presidentes dos EUA, Joe Biden, e do Chile, Sebastián Piñera, também estão entre os já vacinados, assim como a Rainha Elizabeth II e seu marido, príncipe Philip.

Durante sua transmissão ao vivo nas redes sociais ontem, Bolsonaro acrescentou que, como já contraiu o vírus, não se vacinar neste momento não seria um problema. Pesquisadores já identificaram casos de reinfecção e infectologistas afirmam que a vacinação em massa é o meio mais eficaz de conter a propagação da doença.

—Está uma discussão agora se eu vou me vacinar ou não vou me vacinar. Eu vou decidir. O que eu acho? Eu já contraí o vírus. Eu acho que deve acontecer: depois que o último brasileiro for vacinado, se tiver sobrando uma vacina, então eu vou decidir se me vacino ou não. Esse é o exemplo que um chefe deve dar. Igual no quartel. Geralmente, o comandante é o último a se servir —argumentou.

Bolsonaro também demonstrou esperança em um novo medicamento para o tratamento da Covid-19 e citou a proxalutamida, remédio cuja eficácia contra a doença ainda é investigada.

Em um novo ataque, o presidente disse, sem apresentar provas, que prefeitos e governadores usaram recursos repassados pelo governo federal para o combate à Covid-19 para colocar as contas em dia.

— Dinheiro foi para estados e municípios, muito dinheiro, bilhões de reais, mas nós sabemos que muitos governadores e prefeitos usaram esse recurso para pagar folha atrasada, botar suas contas em dia, e não deram a devida atenção para a saúde.

O presidente ainda criticou o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), que reclamou do valor do novo auxílio emergencial —em média, o novo benefício pagará R$  250,ante R$600 e R$300 que foram pagos em 2020.

—Eu vi um vídeo de um governador, acho que o Wellington Dias, fazendo um apelo dramático, que o governo federal não pode pagar R$ 250 a título de auxílio emergencial. Tem que ser R$ 600 porque a pandemia não acabou. Bem, quem está acabando com emprego é ele,o governador Wellington Dias. Não somos nós aqui —contestou.

Bolsonaro citou dados do Tesouro Nacional para dizer que os estados fecharam o ano de 2020 com superávit de R$ 38 bilhões e sugeriu que Dias complemente o valor do auxílio no Piauí.

“MEU EXÉRCITO”

O presidente voltou a associar as medidas restritivas com estado de sítio e a falar em “meu Exército”, o que já provocou insatisfação nas Forças Armadas, que são uma instituição de Estado:

— Há um sentimento cada vez maior de revolta junto a essas pessoas. Repito aqui: eu temo por problemas sociais graves no Brasil. E como é que você vai combater isso? Eu quero repetir aqui: o meu Exército brasileiro não vai às ruas para agir contra o povo. Ou para fazer cumprir decretos de governadores e prefeitos. O meu Exército, enquanto for presidente, não vai.