Título: Prostitutas lutam contra o estigma
Autor: Anaí Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 07/02/2005, País, p. A6

A Rede Brasileira de Prostitutas decidiu trocar o nome ''politicamente correto'' que vinha sendo usado para designar a atividade - profissional do sexo - e voltou ao tradicional prostituta. - Precisamos vencer nossos estigmas, e para isso é preciso assumi-los. O primeiro deles é o nome - explica Gabriela da Silva, coordenadora da rede.

A rede, que hoje é formada por 25 associações, surgiu oficialmente em 1986 em um congresso realizado no Rio de Janeiro. Sua missão é promover a articulação política do movimento organizado de prostitutas e o fortalecimento da identidade profissional da categoria, visando o pleno exercício da cidadania, a redução do estigma e da discriminação e a melhoria da qualidade de vida na sociedade.

É longo e difícil o processo para atingir esse objetivo, mas as associações vão buscando seu caminho. O Núcleo de Estudos de Prostituição (NEP), por exemplo, começou atuando na área da saúde, na prevenção da Aids.

- Porém, percebemos que não é possível trabalhar o corpo se não existe um mínimo de auto-estima P.

- Assim, resolvemos iniciar trabalhando a questão da cidadania das prostitutas - afirma Tina Bonilha, prostituta, representante do NEP.

Gabriela conta que, especialmente no início do processo, elas encontraram muita dificuldade devido ao preconceito, que é um dos maiores obstáculos a serem vencidos.

Um exemplo disso aconteceu já em seu primeiro congresso, quando tiveram muita dificuldade em serem aceitas como hospedes em um hotel, em razão da resistência não só da gerência, mas também dos funcionários. No entanto, Gabriela lembra que o evento terminou com uma plenária de 2.000 pessoas, da qual participaram inclusive os funcionários do hotel.

- Eles nos levaram flores e tudo. Viram que somos pessoas como outras quaisquer -, conta Gabriela.

Para Tina Bonilha, isso mostra como esse preconceito é possível de ser quebrado, não por meio de métodos agressivos, mas através do dialogo, com ''jeitinho'' perante a sociedade.

Um exemplo de estigmas a serem quebrados, para Gabriela, é a idéia de que as prostitutas se sujeitam a uma situação degradante, vendendo o corpo, muitas vezes por pouco dinheiro e sofrendo agressões. Para as prostitutas da rede, essa visão que a sociedade tem da profissão está equivocada.

- Em primeiro lugar, nós não vendemos nosso corpo, nós prestamos um serviço - afirma Bonilha.

Em relação ao dinheiro, Gabriela afirma que, se for para pensar por aí, muitas profissões se sujeitam a situações degradantes, pois são precárias as condições e vergonhosos os salários em várias profissões, não só na prostituição.