O Globo, n. 32015, 02/04/2021, Economia, p. 18

 

Produção industrial cai em fevereiro após 9 meses de alta

02/04/2021

 

 

Aprodução industrial brasileira recuou 0,7% em fevereiro na comparação com janeiro, segundo dados divulgados pelo IBGE. Com o resultado, o setor interrompe umas e quência de nove meses de alta. A falta de matérias primas, que levou muitas montadoras a suspender produção nas últimas semanas, afetou a fabricação de veículos, puxando o resultado do setor para baixo.

O mercado projetava crescimento de 0,4% na indústria, segundo economistas ouvidos pela Reuters. Em 12 meses, o setor acumula queda de 4,2%. Na comparação com fevereiro de 2020, cresceu 0,4%.

Em relatório, o economista-chefe do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, afirma que o cenário para a atividade industrial é desafiador em razão da alta da inflação, do aumento dos casos e mortes por Covid, das medidas de isolamento social para combater a disseminação do vírus e dos protocolos de restrição da mobilidade, além dos problemas nas cadeias de suprimentos.

Nas últimas semanas, várias montadoras suspenderam produção por falta de peças. Embora a paralisação tenha ocorrido em março, os problemas no suprimento já afetavam a produção de veículos no mês anterior.

IMPACTO NO CONSUMO

Em fevereiro, o segmento de veículos automotores, reboques e carrocerias apresentou queda de 7,2%, na comparação com janeiro, segundo o IBGE.

“O ramo de veículos vem sendo muito afetado pelo desabastecimento de insumos e matérias-primas. A produção de caminhões vem tendo resultados positivos. Porém, a de automóveis e autopeças vem puxando o índice geral para o campo negativo”, avalia André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal.

De acordo com o pesquisador, além do desabastecimento, o grande número de desempregados, o aumento de preços, dificuldades no mercado internacional e a interrupção da concessão do auxílio emergencial no fim do ano têm influenciado negativamente a cadeia produtiva.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) também pondera que os resultados do setor mostram que a perda de dinamismo é ditada pelos ramos cujos mercados dependem do consumo das famílias, freado não apenas pelo medo e isolamento decorrente da Covid, como pelo desemprego e a ausência de auxílio no primeiro trimestre.

A indústria foi o primeiro setor a se recuperar do impacto da pandemia, zerando as perdas em setembro. Mas o baque da segunda onda de Covid-19 deve afetar o desempenho da produção industrial em 2021.

O pagamento da nova rodada de auxílio emergencial começa este mês, mas especialistas avaliam que não será suficiente para que a demanda por bens industriais cresça muito.

Há o temor de que a falta de peças, como semicondutores, afete outras indústrias. A China, principal produtora dos semicondutores, redirecionou parte de sua produção ao mercado interno e a regiões e segmentos econômicos com maior poder de compra, afetando o consumo no Brasil.

Além do segmento de veículos, a indústria extrativa também teve queda acentuada em fevereiro (-4,5%), bem como o segmento de produtos têxteis (-9,0%). Na pandemia, os brasileiros vêm comprando menos roupa. Já máquinas e equipamentos continuam no terreno positivo (+2,8%).

Considerando as quatro grandes categorias do setor, apenas os bens intermediários tiveram desempenho positivo, com leve avanço de 0,6% em fevereiro.

Bens de consumo duráveis, que incluem carros e eletrodomésticos, recuaram 4,6%, no segundo mês seguido de queda. Bens de capital tiveram retração de 1,5%, apesar da taxa positiva do segmento de máquinas e equipamentos.