Título: Regiões remotas do Brasil preocupam
Autor: Arthur Ituassu
Fonte: Jornal do Brasil, 05/02/2005, Internacional, p. A7

Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), organização civil com sede em Nova York, olha para o Brasil com preocupação. Segundo a organização, a imprensa brasileira opera normalmente em ambiente de liberdade, no entanto ''vem aumentando o número de casos em que jornalistas são alvos de processos de difamação com o objetivo de calar os profissionais''.

- O Brasil é obviamente um caso que nos preocupa - afirma Carlos Lauría, do CPJ. - Estamos estudando a possibilidade de enviar ao país uma missão para investigar as reais condições dos jornalistas brasileiros.

Segundo Lauría, os problemas estão, em especial, nas regiões mais remotas do país, como o interior do Nordeste ou a fronteira com o Paraguai.

- O que nos impressiona é que a imprensa dos grandes centros brasileiros não noticia casos de repressão à liberdade de expressão que ocorrem o tempo todo em outras partes do país - afirma Lauría, coordenador do CPJ para as Américas.

Segundo o Comitê, empresários, autoridades do governo e políticos têm multiplicado o número de ações judiciais contra profissionais da imprensa brasileira. Normalmente para exercer pressão, reduzir o acesso a recursos e forçar os jornalistas a amenizar as críticas.

Segundo o CPJ, já há no Brasil uma ''indústria da compensação'', onde pessoas processam a imprensa como forma de ficarem ricas. Ainda, diz a organização, os juízes brasileiros são normalmente tendenciosos contra os jornalistas.

O Comitê também mostra preocupação com relação ao alto endividamento das empresas jornalísticas brasileiras, que muitas vezes as torna dependentes de capital do Estado. A relação, diz o CPJ, compromete a independência dos profissionais.

Outro caso na América do Sul que preocupa o CPJ é a Colômbia.

Segundo Carlos Lauría, a situação dos jornalistas colombianos chegou a um ponto em que a censura é feita pelo próprio profissional.

- Nós temos informações de lá. Conversamos com os jornalistas colombianos. O que temos percebido é que o próprio jornalista evita hoje tratar de temas que podem ser de risco - conta o coordenador do CPJ. - Assuntos ligados à guerrilha, ao conflito no país ou ao tráfico e produção de drogas são evitados. (A.I.)