Título: Rebeldes seqüestram italiana
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Fonte: Jornal do Brasil, 05/02/2005, Internacional, p. A8
Correspondente do ''Il Manifesto'' fazia reportagem em Bagdá quando foi levada. Guerrilha deu 72h para Itália retirar soldados
BAGDÁ - Enquanto os iraquianos aguardam o resultado das eleições, a violência continua fazendo vítimas. Ontem, mais nove civis e dois soldados americanos morreram. Na ação de maior repercussão, a guerrilha seqüestrou uma jornalista italiana na capital.
O anúncio do seqüestro foi confirmado em Roma pelo jornal independente de esquerda Il Manifesto , que informou o desaparecimento da jornalista Giuliana Sgrena, seqüestrada no bairro de Al-Jadryia, perto da universidade de Bagdá.
''Vários homens a bordo de um micro-ônibus bloquearam o automóvel onde ela estava. Deixaram em liberdade um jornalista e um motorista iraquianos que a acompanhavam e a levaram para rumo desconhecido'', informou o jornal.
Segundo um colega da RAI (Rádio Televisão Italiana) na capital iraquiana, Fabio Chiucconi, Sgrena havia visitado a mesquita Al Mustafá dentro da universidade para entrevistar os refugiados da cidade sunita de Faluja a respeito da ofensiva lançada por tropas dos EUA em novembro de 2004.
- Giuliana nos ligou há 15 minutos para dizer que estava bem, mas cinco minutos depois seu intérprete voltou a nos chamar para dizer que ela havia sido levada - declarou uma das diretoras do jornal, Gabriele Polo, ainda assustada.
Mais tarde, a guerrilha islâmica divulgou comunicado no qual confirmava estar com a refém. O grupo autodenominado Organização para a Jihad Islâmica deu prazo de 72 horas para que o primeiro-ministro Silvio Berlusconi retire as tropas do Iraque. Caso contrário, ''os esquadrões terão algo a dizer nos próximos dias'', ameaçou.
Na capital italiana, o ministro das Relações Exteriores, Gianfranco Fini, pediu ao embaixador do Iraque na Itália, Mohammed Al-Amili, que trabalhe ''em todos os níveis para conseguir o mais rápido possível a libertação da repórter''. O ministro se reuniu também com o secretário de Estado, Gianni Letta, que participou da negociação em torno do caso de Simona Pari e Simona Torretta, duas trabalhadoras humanitárias libertadas após três semanas de cativeiro, em setembro passado. Não se falou sobre retirada de tropas do país árabe.
Especialista na cobertura do Oriente Médio, Giuliana Sgrena tem 56 anos, fala árabe e é apaixonada pelo islamismo. Membro de um grupo feminista, já escreveu várias obras sobre os direitos das mulheres.
- Giuliana mantém contatos sólidos em Bagdá, bons relacionamentos com os ulemás, é engajada contra a guerra, assim como o Il Manifesto, contou o redator-chefe do jornal, Loris Campetti. - Isto nos faz duvidar de que se trata de um seqüestro político - acrescentou. O jornal convocou uma grande manifestação pela jornalista, hoje, em frente o Capitólio, em Roma.
Vários italianos foram seqüestrados no Iraque desde o início do conflito, entre eles um jornalista, Enzo Baldoni, também de 56 anos, assassinado pelo Exército Islâmico.
No campo político, com a contagem dos votos ampliando a vantagem xiita nas eleições, a reação da guerrilha sunita também aumenta em violência. Nove iraquianos, a maioria civis, morreram desde quinta-feira em diversos ataques. Além disso, dois soldados americanos morreram em combate, um em Mosul, Norte, e outro na Babilônia, região Sul de Bagdá.
Com 40% das urnas apuradas, a Aliança Unificada Iraquiana, liderada pelo aiatolá Ali al Sistani, obteve até agora 2.212.749 votos nas províncias xiitas do Centro e do Sul (67% dos três milhões de votos apurados). A chapa do primeiro-ministro Iyad Alawi, xiita laico, ocupa a segunda posição com 579.708 votos (17,5%).