Título: `Um outro legume é possível¿
Autor: Ubiratan Iorio Economista
Fonte: Jornal do Brasil, 07/02/2005, Opinião, p. A9

Encerrou-se na semana passada mais uma edição do ''Fórum Social Mundial'', versão extemporânea de Woodstock, em que milhares de militantes, reunidos em Porto Alegre, entre debates, festas, passeatas e - quem é bobo? - comes e bebes dos bons, participaram, nessa verdadeira feira livre do atraso, de infindáveis e monotônicos debates sobre o tal ''outro mundo possível''... Nada decidiram, mas falaram, discursaram e gritaram, pondo para fora suas frustrações, recalques e idiossincrasias, contra o famigerado capitalismo, os Estados Unidos, os bem-sucedidos, os transgênicos, o latifúndio, o FMI, os banqueiros, o ''capital financeiro'' e, naturalmente, contra o maior dos males - o ''neoliberalismo globalizante e excludente''... Mas o que vem a ser esse ''outro mundo possível'', além de um disfarce para encobrir sua verdadeira face - o socialismo-comunismo -, tentativa realizada em diversos países desde o século passado e que fracassou retumbantemente em todos os sentidos, principalmente no que se refere ao objetivo de tornar os cidadãos mais felizes?

Primeiro, é um mundo para formigas, cupins, abelhas e outros insetos gregários, mas não para homens e mulheres! Se, para uma abelha, por sua natureza, a colméia é o grande objetivo - o que as torna ''coletivistas'' -, para qualquer ser humano normal, imaginar o coletivismo como um fim não passa de uma utopia, absolutamente inexeqüível, exatamente porque pensamos e, por isso, somos individualistas (o que não quer dizer egoístas): primeiro, nós e nossas famílias, depois, os parentes, depois, os amigos, depois, enfim, a ''sociedade''... Se isto é ''certo'' ou ''errado'' não vem ao caso no contexto deste artigo, mas é simplesmente assim que as coisas acontecem e vão continuar a acontecer, desde Adão e Eva. Querer transformar seres racionais e essencialmente individualistas em formigas é um formidável erro, mesmo porque essa individualidade, ao contrário do que muitos defensores do ''outro mundo possível'' apregoam, não exclui virtudes como as da amizade, da compaixão, da solidariedade, da caridade e outras.

Segundo, é um mundo sem liberdade, a não ser a ''liberdade para'' ou ''liberdade positiva'' a que se referia Isaiah Berlin: nesse inferno pintado de paraíso do ''outro mundo possível'', os cidadãos são livres, sim, mas para fazerem apenas o que o ''partido'' determina que pode ser feito. Iniciativa individual? Liberdade de pensamento? Criatividade? Para quê, se ''gênios'' do tipo Fidel Castro, Pol Pot, Lenin, Stalin, esse histriônico Hugo Chávez e outras figuras semelhantes sabem sempre o que é melhor ou pior para cada um dos que subjugam? É impressionante a desfaçatez com que essa gente fala em ''democracia'' e em ''liberdade''!

Terceiro, é um mundo de pobreza, porque desde que Adam Smith lançou as bases do que hoje chamamos de desenvolvimento econômico e pela própria evidência, sabe-se que a principal causa da riqueza é a liberdade: de produzir, de comprar, de vender, de exportar, de poupar, de investir, de importar, de plantar... Não há sequer um exemplo de nação que tenha caído no conto do vigário do ''outro mundo possível'' que tenha assegurado um padrão de vida minimamente digno para os seus cidadãos. O que conseguiram foi distribuir eqüitativamente a pobreza...

Por fim, o ''outro mundo possível'' é um mundo sem transcendência! Todos são forçados a serem ateus, por imposição dos mandantes. Nesse mundo de feira livre, não se pode louvar o Criador, apenas suas criações, como a ''mãe natureza'' e a ''mãe água''... Quantos sacerdotes católicos, por exemplo, são presos, torturados e mortos na China, anualmente?

Sim, um outro legume é possível, mas é podre!