O Estado de São Paulo, n. 46475, 14/01/2021. Metrópole, p. A10

Ministério quer começar vacinação no dia 19 com evento no Planalto
Mateus Vargas
14/01/2021



'Brasil imunizado, somos uma só nação' é o slogan planejado para a cerimônia, que tem como proposta vacinar uma pessoa idosa e um profissional de saúde. Pasta diz que doses deverão chegar a todas as capitais de 3 a 5 dias após o aval da Anvisa, com início simultâneo

O Ministério da Saúde planeja o começo da vacinação contra a covid-19 no País em um evento no Palácio do Planalto, apesar de o próprio presidente Jair Bolsonaro afirmar que não pretende ser imunizado. A ideia é realizar a primeira imunização no País na próxima terça-feira, data em que governadores devem estar em Brasília para participar de reunião com o ministro Eduardo Pazuello. "Brasil imunizado, somos uma só nação" é o slogan planejado para a cerimônia, que ainda não foi confirmada.

A proposta é vacinar uma pessoa idosa e um profissional de saúde. O Palácio do Planalto afirma que ainda não há cerimônia prevista, mas o assunto está em discussão no Ministério da Saúde, com o aval do ministro Pazuello. O secretário executivo da pasta, Élcio Franco, disse ontem que o início da vacinação está planejado para ocorrer simultaneamente em todas as capitais de 3 a 5 dias após o aval da Anvisa, que pode ocorrer no próximo domingo.

O evento no Planalto também tem como objetivo evitar que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), seja protagonista na primeira foto de alguém sendo vacinado no País. O início da imunização tornouse uma queda de braço entre Bolsonaro e o tucano, que há mais de um mês anunciou o início da imunização em seu Estado no dia 25 de janeiro.

A definição de uma data pressionou o governo federal a correr para não ficar para trás e tentar evitar que Doria, adversário político de Bolsonaro, lucre politicamente com o episódio.

A ideia do ministério é ter pelo menos 8 milhões de doses disponíveis ainda no fim de janeiro para a vacinação, sendo 2 milhões de Oxford/astrazeneca, que estão sendo importadas da Índia, e 6 milhões da Coronavac, já armazenadas pelo Butantã. No total, Pazuello afirma que o País terá 354 milhões de doses em 2021, sendo que a imunização exige duas aplicações.

O ministério informou que um avião da companhia Azul sairá do Brasil hoje com destino a Mumbai, na Índia, para buscar as 2 milhões de doses da Astrazeneca no laboratório Serum. A carga é estimada em 15 toneladas. A aeronave partirá do Recife às 23 horas e a previsão de retorno é no próximo sábado. A volta será pelo aeroporto do Galeão, no Rio, cidade onde as doses ficarão armazenadas.

"É o tempo de viajar, apanhar e trazer. Já estamos com todos os documentos de exportações prontos", disse o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ontem em Manaus.

O governo federal é cobrado para antecipar o calendário de vacinação contra a covid-19, além de garantir insumos como agulhas e seringas. Bolsonaro, porém, já afirmou que não irá se vacinar contra a covid-19. Ele também não estimula o uso do imunizante e chega a fazer consultas informais entre seus apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada, para mostrar que parte da população deve segui-lo. Pelas suas contas, metade da população não irá se vacinar.

Ainda na capital do Amazonas, Pazuello foi mais preciso quanto à data para início da aplicação da doses nos brasileiros. "Temos duas vacinas para janeiro, muito promissoras, oito milhões de doses. Quando a Anvisa concluir sua análise, 3, 4 dias depois estamos distribuindo a vacina no Brasil. Ponto. Anvisa vai se pronunciar no dia 17. Botem aí os números para frente. Se a Anvisa alongar para o dia 20, 22, botem os números para frente, mas é janeiro", disse.  

Nas capitais. O prazo, segundo a pasta divulgou ontem em entrevista coletiva à imprensa, é necessário para que as doses sejam divididas em lotes e enviadas para as maiores cidades de cada Estado, de forma que "ninguém fique para trás".

"Por que queremos começar com todos ao mesmo tempo?

Temos um mote de que ninguém ficará para trás. No SUS, há o princípio da equidade e o da universalidade, de atender a todos", disse o secretário executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco. "O Butantã e a Fiocruz são motivos de orgulho, mas não podemos tratar brasileiros de formas diferentes. Ninguém estará seguro até que todos estejam seguros", completou.

Questionado sobre a possibilidade de São Paulo e Rio de Janeiro terem de esperar para começar a vacinação, já que poderão estar com as vacinas em seu território, Franco disse que os Estados não estão "perdendo

(tempo)", "o Brasil é que está ganhando". Atualmente, seis milhões de doses estão sob guarda do Instituto Butantã, que por determinação da Anvisa não pode antecipar a distribuição "por uma questão legal", informou o ministério.

A intenção de aguardar a chegada da vacina a todos os Estados não representa que as doses estarão em todos os municípios, explicou o ministério. Franco justificou o plano para as capitais em razão das dificuldades de transporte e logística que levar a vacina a todos os 5.570 municípios poderia ter. Mas esclareceu que a capilaridade vai aumentar exponencialmente ao longo dos dias.

"A simples aprovação da Anvisa não nos permitiria, num estalar de dedos, fazer a vacina chegar a todos os postos de vacinação", disse o secretário.  

Princípios

"Por que queremos começar ao mesmo tempo? Temos um mote de que ninguém ficará para trás. No SUS, há o princípio da equidade e o da universalidade, de atender a todos."

Élcio Franco

SECRETÁRIO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE