Título: Desencontro entre vagas e emprego
Autor: Gustavo Igreja
Fonte: Jornal do Brasil, 07/02/2005, Brasília, p. D3

Empresas dizem que os programas de qualificação não atendem as necessidades e governo alega que elas não dizem o que querem

A reclamação dos comerciantes é antiga: vagas existem, falta é gente qualificada para preenchê-las. E o governo responde: qualificação existe, falta é disposição dos comerciantes em dizer o que eles precisam. E, na confusão, mesmo com todos os investimentos do estado em qualificação, continuam existindo vagas de trabalho sem candidatos para ocupá-las, conforme dizem os empresários, e gente tentando, sem sucesso, preenchê-las. Em parceria com o Ministério do Trabalho, o GDF investiu ano passado quase R$ 1 milhão na qualificação profissional de brasilienses empregados e desempregados. Nenhuma quantia astronômica. Mas o suficiente para atender quase 1,9 mil cidadãos, em cursos com duração média de 240 horas oferecidos de acordo com a demanda dos trabalhadores e com o que o governo avalia ser uma necessidade do mercado, conforme explica Daniela Fernandes Soares, gerente de acompanhamento de projetos da Secretaria de Trabalho do GDF.

- Nós cruzamos os dados das ofertas de emprego com aqueles cursos mais procurados. Assim definimos o que será ensinado nos módulos de qualificação - explica ela.

Em 2004, foram oferecidos treinamentos para formar auxiliares de limpeza, cozinheiros, garçons, mecânicos, operadores de caixa de supermercado, de micro e de telemarketing, recepcionistas, secretárias, vendedores, padeiros e confeiteiros. O problema, na opinião dos empresários, no entanto, é que a avaliação do governo não retrata verdadeiramente a necessidade do mercado. E, se o governo acerta a carreira a ensinar, erra no conteúdo repassado nos treinamentos.

- O curso que o governo dá no nosso ramo, de panificação, oferece uma base. Mas falta muito. Um bom confeiteiro é dificílimo de achar. Então, a gente investe no treinamento próprio, que é fundamental, porque não adianta, se não for algo muito especializado, conhecimento profundo, o funcionário não dá conta do recado. E não há um acordo formal para trabalharmos em parceria com o governo, dando essa orientação - afirma Vilmar Ferreira Peixoto, presidente do Sindicato da Indústria de Alimentação de Brasília (Siab).

O GDF reconhece a dificuldade. Mas afirma que não é por falta de iniciativa do governo que ela existe. Segundo Daniela Fernandes Soares, é costume na Secretaria do Trabalho enviar aos sindicatos cartas-questionários, pedindo que explicitem que tipo de funcionário precisam e com que formação. Já as respostas, conforme conta ela, são outros quinhentos.

- No finalzinho de 2004, a Sub-Secretaria de Emprego enviou expediente a diversos órgãos e entidades do DF, governamentais e não-governamentais, dentre elas os sindicatos, para que nos encaminhasse levantamento da necessidade de cada área. Isso já acontecia no passado. Mas a resposta não vinha. Este ano ainda estamos aguardando os levantamentos - justifica ela.

Presidente da Federação do Comércio do DF (Fecomércio), Adelmir Santana reconhece que há ''um desencontro'', que ''falta uma ação objetivando falar a mesma linguagem''. Para ele, até pela burocracia que geralmente existe quando se lida com o Estado, as falhas acabam acontecendo. Mas não devem ser motivo de desistência.

- Estamos insistindo. Tem que ocorrer o entendimento, até para que não se use o recurso público para qualificar gente que, depois, não vai conseguir emprego de qualquer forma - comenta.

O presidente do Siab, Vilmar Peixoto, garante que os colegas até gostariam de ajudar. Mas se houvesse um acordo formal, com garantia de que os resultados viriam.