O Globo, n. 32019, 06/04/2021, País, p. 6
Eduardo: Bolsonaro não tem ‘interesse’ em ditadura
Bruno Goés
06/04/2021
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse ontem ao Conselho de Ética da Câmara que rejeita possibilidade de uma ditadura porque “o poder já está em nossas mãos”. Ele se referia ao seu mandato no Congresso e ao papel de seu pai, o presidente Jair Bolsonaro. Eduardo tratou do assunto ao se defender em tramitação de processo para apurar a quebra de decoro parlamentar. O deputado foi denunciado por sugerir um novo AI-5, ato que cassou as liberdades individuais durante a ditadura militar.
O relator do caso, Igor Timo (PODE-MG), sugeriu o arquivamento do processo, mas a sessão foi suspensa após pedido de vista.
—Já sendo eleito presidente da República, o menos interessado em que o país vire uma ditadura é o próprio presidente Jair Bolsonaro. Em igual conta, eu também, deputado federal mais votado da História do país. E muitos aí dizem que eu deveria ser cassado, uma total violação do nosso sistema representativo. Sou o menos interessado também em ter qualquer tipo de ditadura, porque o poder já está em nossas mãos —declarou Eduardo.
O deputado foi alvo de representação no colegiado após dar entrevista veiculada em canal do YouTube, em 2019. Na ocasião, ele disse que o país chegaria a um momento parecido com o “final dos anos 60, quando sequestravam aeronaves e executavam-se e sequestravam-se grandes autoridades”.
— Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar ter uma resposta. E a resposta, ela pode ser via um novo AI-5, via uma legislação aprovada através de um plebiscito, como ocorreu na Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada — declarou Eduardo.
Ontem, o parlamentar disse ainda que não teria “poder” para baixar um novo AI-5, além de se dizer injustiçado pelo processo. Igor Timo não não considerou o caso como quebra de decoro parlamentar.
— Entendemos que, conquanto a autoria e a materialidade dos fatos declinados nas representações estejam devidamente demonstradas, as condutas descritas não configuram afronta ao decoro parlamentar, tratando-se de verdadeiros fatos atípicos — declarou o relator, ao ler o parecer.
Durante a sessão, Eduardo Bolsonaro também tentou explicar outra fala antidemocrática que viralizou nas redes sociais. A alunos de concurso público, em 2018, ele indicou que bastava “um cabo e um soldado” para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF).
—Em uma palestra dada a alunos de concurso público, eu fiz, em tom jocoso, uma brincadeira parafraseando o presidente Jânio Quadros, que em certa medida falou: “Por alguns segundos, pensei em fechar o Congresso, e teria me bastado um cabo e dois soldados”.
Na próxima semana, o conselho se reúne novamente para decidir se arquiva ou não processo, após análise de parecer do relator.