O Globo, n. 32017, 04/04/2021, País, p. 6

 

Dentro do Planalto, Centrão avalia rota em 2022 
Nathália Portinari
04/04/2021

 

 

 

BRASÍLIA - Ao mesmo tempo em que garantiu assento no Palácio do Planalto, com a nomeação da deputada federal Flávia Arruda (PL-DF) para a Secretaria de Governo, o Centrão ainda avalia a conveniência de aderir desde já ao projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro. A queda de popularidade do chefe do Executivo preocupa líderes partidários, que ainda têm dúvidas sobre o potencial que a vacinação contra o coronavírus, ainda em ritmo lento, tem para reverter o cenário.

Os nomes do Centrão mais próximos ao presidente são o senador Ciro Nogueira (PP-PI), o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) e o ex-deputado Valdemar Costa Neto (PL), todos presidentes das legendas — com um grau de independência maior, também há o ex-ministro Gilberto Kassab (PSD). Esse conjunto de partidos já sinalizou ao presidente que pode apoiar uma terceira via nas eleições presidenciais, a depender do desempenho no combate à pandemia e da recuperação da economia nos próximos meses. Caso não haja uma vantagem clara no apoio, devem seguir caminhos diversos, e não necessariamente em bloco — os dirigentes avaliam que o cenário ficará mais claro apenas no ano que vem.
O Republicanos, que abriga o vereador do Rio Carlos Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro (RJ), acaba de indicar o deputado João Roma (BA) para o posto de ministro da Cidadania. O partido está na base do governo no Congresso, mas ainda não demonstra que vai marchar com Bolsonaro em 2022.

A cúpula, como em outros partidos, deve aguardar para se posicionar. Pereira, ex-ministro da Indústria e Comércio de Michel Temer, indicou Roma para o ministério e é visto com bons olhos no Palácio do Planalto. O governo cogitou recriar a pasta para abrigá-lo, mas teve resistência do ministro da Economia, Paulo Guedes, hoje responsável pela área.

No caso do PL, Costa Neto, que foi preso no caso do mensalão, esteve com Bolsonaro no dia seguinte à entrega da Secretaria de Governo para Flávia Arruda,filiada à sigla. Ainda assim, segundo aliados do presidente do PL, é cedo para dizer se o partido embarcará no projeto eleitoral de Bolsonaro. De acordo com esta avaliação, o apoio a uma terceira via ou até mesmo a neutralidade são possibilidades. Em outro espectro político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem citando com frequência que o PL integrou sua chapa vitoriosa em 2002, com o vice José Alencar.

O líder do PL na Câmara dos Deputados, Wellington Roberto (PB), diz que é cedo para falar sobre 2022, mas reforça que o partido, hoje, está com Bolsonaro.

— O PL é um partido que, quando toma posição, veste a camisa. Estamos firmes na base de Bolsonaro. O PL tem palavra, lealdade e fidelidade. Basta você ver o comportamento dos parlamentares nas votações — diz o parlamentar.

Na última eleição, após Bolsonaro rechaçar o então senador Magno Malta (PL-ES) como vice por um desacordo sobre a composição de chapa para deputados no Rio e em São Paulo, Costa Neto ajudou a costurar a aliança de cinco partidos do Centrão em torno de Geraldo Alckmin (PSDB). Se a popularidade de Bolsonaro continuar caindo, pode ocorrer um movimento semelhante — é o que dizem, em caráter reservado, os principais quadros do partido.

“Estando bem ou mal”
Dentro do Centrão, Nogueira é quem demonstra maior fidelidade ao governo. O senador quer se candidatar ao governo do Piauí em 2022. Ele rompeu com o governador Wellington Dias (PT) e deve se lançar como nome de oposição, apostando na polarização para se eleger. Em entrevista ao GLOBO, Nogueira reafirmou que estará “ao lado” do presidente no ano que vem. Nos bastidores, é um dos nomes mais ouvidos por Bolsonaro na tomada de decisões e conseguiu indicações em diversos órgãos importantes, como o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

— Eu não mando no partido, mas tenho uma liderança expressiva. Defendo que vamos estar com o presidente em qualquer hipótese, estando bem ou mal — afirmou.

O PSD também deve demorar para se posicionar, em função de divergências internas. Kassab defende uma candidatura própria do partido em 2022, mas há parlamentares próximos do governo, que negociou recentemente uma participação maior com cargos federais. Do outro lado, há uma ala independente, especialmente no Senado.

Há, ainda, diversos presidentes de partidos de centro que articulam uma terceira via: ACM Neto (DEM), que tenta disputar o eleitorado de esquerda em sua campanha ao governo da Bahia em 2022; Baleia Rossi (MDB), que costura uma aliança em São Paulo com o governador tucano João Doria; e Bruno Araújo (PSDB), cujo partido tem Doria e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, entre as opções para disputar a Presidência.

Os caminhos dos presidentes
Ciro Nogueira (PP)
O senador rompeu com Wellington Dias (PT) e almeja disputar o governo do Piauí no ano que vem. Para isso, aposta que pode se beneficiar da polarização entre o petismo e o bolsonarismo no estado. Nogueira defende que o partido esteja com Bolsonaro em 2022 em qualquer hipótese, mas as configurações regionais podem fazer com que líderes da legenda embarquem em outras candidaturas. Em 2018, o PP formalmente apoiou Geraldo Alckmin (PSDB), mas houve defecções ao longo da campanha presidencial.

Valdemar Costa Neto (PL)
O dirigente reassumiu oficialmente o comando do PL no fim do ano passado e, desde então, passou a participar com mais afinco das articulações. No dia seguinte ao anúncio da deputada Flávia Arruda (PL-DF) como nova ministra da Secretaria de Governo, Costa Neto esteve com o presidente Jair Bolsonaro. Aliados dele, no entanto, ponderam que ainda é cedo para tratar de 2022 e, antes de uma decisão, preferem aguardar os desdobramentos do cenário econômico e da vacinação sobre a popularidade de Bolsonaro.

Marcos Pereira (Republicanos)
Ex-ministro da Indústria e Comércio do governo de Michel Temer (MDB), o deputado federal Marcos Pereira (SP) preside o partido que abriga dois filhos do presidente e que, desde fevereiro, está à frente do Ministério da Cidadania, com João Roma. O Republicanos, no entanto, também vai esperar antes de definir se embarcará no projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Na última eleição presidencial, a legenda esteve ao lado da candidatura derrotada de Geraldo Alckmin (PSDB) ao Palácio do Planalto.

Gilberto Kassab (PSD)
Ex-ministro dos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), o presidente do PSD vem defendendo publicamente que o partido tem condições de lançar candidato próprio à Presidência em 2022. Há na sigla, no entanto, deputados alinhados ao governo, além de um ministro, Fábio Faria, à frente das Comunicações. Por outro lado, um grupo no Senado resiste à aproximação com o governo, o que pode estimular uma aliança com um nome de centro, se a tese da candidatura própria não ganhar fôlego.