Título: Treinamento não é garantia de emprego
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 07/02/2005, Brasília, p. D3

Desempregado desde o ano passado, quando terminou de cursar o ensino fundamental, Joanes Bezerra Gonçalves, 19 anos, completou em 18 de janeiro o treinamento para trabalhar como garçom oferecido pelo governo local. Desde então, procura todos os dias uma vaga no mercado, nos jornais ou andando cidade afora. E não consegue nada. O curso ajudou, como diz ele, mas não resolveu o problema maior. - Foi bom pela experiência, mas emprego, até agora, não tenho. Foram 200 horas de curso, mas o que eu acho que eles querem mesmo não é a experiência, que eu não tenho. Eu sei trabalhar na prática, mas não trabalhei ainda. Um colega meu que passou pelo curso conseguiu uma vaga. Mas, comigo, ficam de ligar e não ligam. E olha que o Carnaval é uma época em que se contrata muito garçom - lamenta o jovem.

O medo dos patrões, segundo Vilmar Ferreira Peixoto, presidente do Sindicato da Indústria de Alimentação de Brasília (Siab), é de que se repita uma situação à qual os empresários já estão habituados. O candidato à vaga se apresenta, garante que dá conta do serviço, mas, depois, não consegue retribuir a confiança que depositaram nele.

- A pessoa chega dizendo que é confeiteiro mas não é. Sabe muito pouco do que tem realmente que saber. E isso não é algo bom nem para eles nem para o empregador. A iniciativa do governo é boa, mas o curso que dão é fraco, é para quem está começando, tomando só uma base, uma noção. Quem quer se especializar nesse serviço, tem que procurar o Senac - define Peixoto.

Os treinamentos aos quais se refere o presidente do Siab são oferecidos no DF há 37 anos pelo Senac-DF, que integra a Federação do Comércio do DF (Fecomércio). De acordo com o presidente da Fecomércio, Adelmir Santana, já passaram pelos cursos de níveis básico, técnico e superior cerca de 700 mil trabalhadores, dos quais 230 mil, gratuitamente. Só no ano passado, 31.867 pessoas passaram pelos cursos no DF.

- Os 26 sindicatos filiados à Fecomércio-DF são parceiros nos cursos, que tem prioridade em comércio e gestão, turismo e hospitalidade, saúde, informática e imagem pessoal - diz Santana.

Só este ano, o Senac deve investir R$ 18 milhões nos treinamentos, que incluem 200 cursos básicos, 11 cursos técnicos e um curso de pós-graduação. A meta até 2010, no entanto, é chegar à marca de 300 cursos básicos, 30 cursos técnicos, 10 cursos de pós-graduação e três cursos de graduação. Dentre as áreas de formação, está previsto um Centro de Excelência em Gastronomia, Centro de Moda, Beleza e Design, um Centro de Capacitação em Idiomas e um Centro de Gestão e Tecnologia do Terceiro Setor.