O Globo, n. 32017, 04/04/2021, País, p. 6

 

Com Lula, esquerda passa a mirar alianças ao centro
Paulo Cappelli
04/04/2021

 

 

 

BRASÍLIA - Após o retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao cenário eleitoral, lideranças da esquerda defendem a costura de uma aliança com o centro em paralelo ao esforço por unificar o chamado “campo progressista”, que era tido como prioridade até então. A avaliação é de que o nome de Lula já forma certo consenso dentro da esquerda. Outros pré-candidatos que buscavam aglutinar este campo, como Ciro Gomes (PDT), também passaram a mirar mais o centro.

 

Lembrado como um nome para disputar a Presidência ou ser vice de Lula, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), diz que caminhará com o petista e que abre mão de integrar a chapa para que o posto seja ocupado por um nome do Centrão. Dino afirma que disputará o Senado no ano que vem.

— Caso Lula se coloque de fato como candidato, é muito mais forte do que qualquer outro do nosso campo. E tenho dito que temos que nos abrir o máximo possível para o centro, com a possibilidade de isso estar presente na chapa e, sobretudo, no programa de governo. Esta abertura é imprescindível para virar a página do bolsonarismo — afirma Dino.

Presidente nacional do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR) considera “correto” o raciocínio de Dino:

— Inicialmente, vamos procurar todos os partidos do nosso campo. Mas é óbvio que, para ganhar a eleição, precisamos de mais do que os 30%, 40% de eleitores progressistas — avalia.

 

A elegibilidade de Lula também levou o PSOL, internamente, a dialogar por uma composição com o petista já no primeiro turno. Sem falar em alianças específicas, Guilherme Boulos, presidenciável na última eleição, prega a “unidade de esquerda”.

— Já no primeiro turno, a esquerda precisa ter uma candidatura para apresentar seu projeto de país, não só para enfrentar Bolsonaro, mas com um programa de reconstrução nacional — diz Boulos.

No PDT, Ciro Gomes subiu o tom contra Lula, na tentativa de se consolidar como alternativa ao petista e ao presidente Jair Bolsonaro. Embora sustente que a anulação das sentenças na Lava-Jato foi correta, Ciro disse que Lula “se lambuzou no poder”. Enquanto esfria a possibilidade de aliança entre PT e PDT até no segundo turno, Ciro assinou um manifesto pró-democracia junto a outros presidenciáveis associados à centro-direita, como João Amoêdo (Novo) e Luiz Henrique Mandetta (DEM), que fizeram críticas recentes a Lula.

 

O PSB, que vinha dialogando por uma aliança com Ciro, agora adota cautela. Lideranças do partido citam o eventual apoio a um “outsider” e não descartam uma aliança com o próprio Lula.