O Globo, n. 32017, 04/04/2021, Sociedade, p. 16

 

‘Evitar lockdown é a ordem’, diz Queiroga 
Leandro Prazeres
Paulo Cappelli
Paula Ferreira 
Gabriel Shinohara
04/04/2021

 

 

 

BRASÍLIA – Em meio a recordes nos registros de mortes causadas pela Covid-19, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que “a ordem é evitar o lockdown”.

A declaração foi dada durante uma entrevista coletiva realizada neste sábado. Segundo ele, é preciso que a sociedade “faça seu dever de casa” para evitar que medidas extremas sejam implementadas.

 

— Precisamos nos organizar para fazer com que evitemos medidas extremas e consigamos garantir que as pessoas continuem trabalhando, ganhando seu salário e renda, deixando essas medidas extremas (lockdowns) para outro caso. Evitar lockdown é a ordem, mas temos que fazer nosso dever de casa — afirmou o ministro, após se reunir pela primeira vez com o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom.

 

A afirmação foi em resposta a uma pergunta sobre a interlocução do governo federal com estados e municípios em relação às medidas de restrição de mobilidade impostas em diversas localidades do país.

Queiroga disse que as atribuições para a implementação dessas medidas são dos estados e municípios, mas disse que recebeu orientações do presidente Jair Bolsonaro para conversar com governadores e prefeitos sobre o assunto.

 

Segundo ele, é preciso que a população adote medidas como o uso da máscara e distanciamento para diminuir a velocidade de contágio da doença.

— Não é fácil a adesão da população. Por mais que a gente fale, vocês (imprensa) falam todo dia na TV e nós não conseguimos fazer com a que a população tenha adesão a essas medidas que parecem simples, mas são eficientes — disse Queiroga.

 

O Brasil passa pelo pior momento da epidemia de Covid-19 desde que a doença chegou no Brasil, em fevereiro de 2020. Segundo dados do consórcio de veículos de imprensa do qual O GLOBO faz parte, a doença já matou 328.366 pessoas. 

 

Orientação nacional
Queiroga também afirmou que o governo federal pretende lançar uma orientação nacional a estados e municípios voltada ao estabelecimento de regras para evitar aglomerações entre usuários do transporte coletivo.

O ministro disse que vem conversando com governadores e prefeitos e com integrantes do governo como o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.

— Estamos trabalhando, sim, com protocolos para orientar a população brasileira, sobretudo os que usam transporte público, para que façamos isso de uma forma mais coordenada afim de evitar o fechamento da nossa economia — disse o ministro. 

 

Fábricas de vacinas para animais
Queiroga também afirmou que o governo está mantendo conversas com a OMS e a Opas para avaliar a possibilidade de um acordo que viabilize o aumento da produção de vacinas no Brasil a partir da utilização de fábricas que produzem vacinas para animais.

Segundo o ministro, os parques industrais que atuam na produção de imunizantes para animais poderiam ser usados para fabricar vacinas contra a Covid-19.

— Estamos trabalhando em um acordo de cooperação técnica para ampliar a vacinas no Brasil [...] a partir do apoio de análises técnicas das autoridades sanitárias do país e da OMS para averiguar a adequação dos parques industriais que produzem vacinas animais para usar esses parques para produzir vacinas para humanos — afirmou Queiroga.

O ministro disse que o projeto ainda está em fase inicial e que ainda não há um cronograma definido para que fábricas de vacinas animais possam ser adaptadas para a produção de vacinas contra a Covid-19.

Críticas de Bolsonaro
As declarações de Queiroga sobre lockdown foram dadas no mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar medidas de isolamento social adotadas em governos locais. Em visita a uma comunidade no Distrito Federal, Bolsonaro disse que sua guerra não era política, mas sim preocupação com o futuro da nação.

— A guerra, da minha parte, não é política. É uma guerra que, realmente, tem a ver com o futuro de uma nação. Não podemos esquecer a questão do emprego. O vírus, o pessoal sabe que estamos combatendo com vacinações. Apoiamos medidas protetivas, agora, tudo tem um limite — declarou o presidente, em transmissão ao vivo nas redes sociais.

Desde o início da pandemia, o presidente disse que era contra o que chama de política do "fecha tudo". Segundo ele, as medidas levaram o país a aumento do desemprego e prejudicam a população mais pobre.

A medida para mitigar os efeitos do isolamento social sobre mais vulneráveis foi o auxílio emergencial, criado em abril. O benefício foi interrompido em dezembro, quando o número de casos e mortes já indicava elevação.

Após negociações com a equipe econômica e o Congresso, o programa foi retomado, em valor menor, e voltará a ser pago a partir da próxima terça-feira. Os repasses vão durar quatro meses e serão, em média, de R$ 250.