Título: Estoque maior na indústria do Rio
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Jornal do Brasil, 07/02/2005, Economia, p. A14
Capacidade de produção aumentou em momento de queda nas vendas, aponta estudo da Firjan. Ritmo de expansão já é inferior
BRASÍLIA - A elevação dos juros e a desvalorização do dólar sinalizam que as indústrias instaladas no Rio de Janeiro vão crescer em 2005 num ritmo menor que o registrado em 2004, uma tendência traçada de forma geral para a indústria brasileira. A perda de fôlego foi detectada pela Federação das Indústrias do Rio (Firjan) nos indicadores industriais encerrados em dezembro. A pesquisa identificou que, enquanto as vendas recuaram entre novembro e dezembro, a utilização da capacidade instalada do parque fabril foi ampliada de 80,8% para 81,8%. Essa diferença mostra que o setor iniciou o novo ano com estoque maior.
No ano passado, as vendas reais do setor industrial fluminense aumentaram 5,8% na comparação com 2003, conforme relatório elaborado pela Firjan. No entanto, a desaceleração no nível de atividade entre novembro e dezembro, com um recuo de 5,7% nas vendas, evidencia que o setor ingressou em 2005 com uma velocidade de expansão menor do que a verificada em 2004.
Nível de atividade em expansão mais lenta, juros elevados de 16% em setembro para 18,25% ao ano em janeiro e dólar em queda levaram os industriais consultados a apontar que a permanência do ciclo de expansão iniciado em 2004 não está garantida e que é preciso melhorar as condições para o investimento.
- O ano de 2004 marcou a retomada dos investimentos, mas isso não é suficiente para garantir desenvolvimento continuado. O ambiente de negócios não é estimulante ao empreendimento, há a questão tributária e de estabilidade de regras. Há estrangeiros que querem entrar em setores que requerem regulação e isso ainda não está suficientemente definido - comentou a economista-chefe da assessoria de pesquisa econômica da Firjan, Luciana de Sá.
Em termos nacionais, a recuperação da economia foi pautada pelos setores exportadores, indústrias de máquinas e bens de consumo duráveis. No Rio de Janeiro, a expansão foi puxada pelos segmentos de material de transporte e siderúrgico. Em termos estruturais, o PIB industrial fluminense é formado por 69% de participação das indústrias de transformação (os segmentos com maior peso são refino de petróleo, metalurgia, indústria de alimentos e de bebidas) e por 31% da indústria extrativa mineral.
Outro fator que caracteriza a desaceleração industrial no Rio de Janeiro é a menor taxa de expansão na comparação com a média nacional. Tendo por parâmetro os dados do IBGE, enquanto a indústria nacional avançou 8,3% no período entre janeiro e novembro de 2004, as indústrias fluminenses cresceram 2,2%. Essa diferença deveu-se em parte à retração no período de 4,2% do segmento da indústria extrativa mineral (na qual está incluída a Petrobras, cujas atividades foram influenciadas pelas interrupções para manutenção das plataformas). Expurgado o segmento da indústria extrativa mineral, a indústria da transformação cresceu 3,7%.
- A indústria brasileira entrou em uma trajetória de recuperação e o Rio não fugiu a essa tendência, mas a indústria fluminense apresentou média inferior à nacional - afirmou Luciana de Sá.