O Estado de São Paulo, n. 46460, 30/01/2020. Economia, p. B3

 

Desemprego fica em 14,3% em outubro

Vinícius Neder

Cícero Cotrim

30/01/2020

 

 

 Recorte capturado


Apesar do leve recuo em relação ao trimestre encerrado em setembro, 14,1 milhões de pessoas ainda estavam em busca de emprego

A taxa de desemprego no Brasil ficou em 14,3% no trimestre encerrado em outubro, segundo dados divulgados ontem pelo IBGE. O indicador ficou acima dos 13,8% do trimestre terminado em julho, mas abaixo dos 14,6% do terceiro trimestre. Embora a taxa esteja nas máximas históricas, foi a primeira queda após subir por nove meses seguidos. Também houve a geração de 2,273 milhões de vagas em um trimestre, apontando para retomada, ainda que insuficiente para recuperar as perdas desde o início da crise causada pela covid-19.

Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, a queda na taxa de desemprego do terceiro trimestre para o trimestre móvel terminado em outubro é uma surpresa positiva que denota mais força da atividade.

"O resultado de outubro mostrou uma força inesperada, denota uma recuperação da economia ao menos marginalmente mais célere", afirmou Sanchez. "Mesmo assim, é uma constatação frágil: o desemprego deve continuar avançando pelo menos até que haja recomposição da força de trabalho."

Em termos absolutos, 14,061 milhões de pessoas estavam procurando emprego no País, um aumento de 7,1% (ou 931 mil pessoas a mais) na comparação com o trimestre móvel anterior e de 13,7% frente igual período de 2019 (1,694 milhão a mais). O recorde de desempregados, de 14,105 milhões, foi no primeiro trimestre de 2017, fundo do poço da recessão de 2014 a 2016.

O mercado esperava uma taxa de desemprego maior em outubro. Analistas consultados pelo Projeções Broadcast previam entre 14,5% e 15%. Um crescimento do desemprego é esperado, como afirmou Sanchez, porque grande parte dos trabalhadores que perderam seus empregos, ou seja, saíram da população ocupada, deixaram a força de trabalho. Por causa das medidas de isolamento social para conter a pandemia, muitos que perderam suas ocupações, tanto formais quanto informais, ficaram em casa e evitaram procurar novas vagas.

Pela metodologia internacional seguida pelo IBGE, só é considerada desocupada a pessoa que tomou alguma atitude para buscar um trabalho. Assim, conforme as medidas de isolamento vão sendo flexibilizadas, mais pessoas voltam a procurar trabalho.

Fila. Quem não encontra, seja numa ocupação formal seja numa informal, engrossa a fila do desemprego. No trimestre encerrado em outubro, a geração de 2,273 milhões de vagas foi sinalizada pelo aumento de 2,8% na população ocupada, na comparação com o trimestre móvel imediatamente anterior.

Segundo Cimar Azeredo, diretor adjunto de Pesquisas do IBGE, a alta de 2,8% é a maior variação na série de trimestres comparáveis da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, iniciada em 2012. "O recorde é por causa da situação adversa, que é a pandemia", afirmou, lembrando que a alta se segue a duas fortes quedas nos trimestres móveis anteriores.

Desse total, 2,020 milhões encontraram trabalho em vagas tidas como informais, mas também houve avanço de 1,3% no contingente ocupado com carteira assinada no setor privado, indicando a geração de 384 mil postos formais em um trimestre – outros tipos de postos formais tiveram queda, para o saldo final ficar em 2,273 milhões.

Em tempos normais, o aumento da informalidade é ruim, mas, no contexto de um mercado de trabalho desorganizado pela pandemia, a geração de vagas informais "mostra o retorno daquelas pessoas afastadas por conta da situação adversa que é a crise sanitária", disse Azeredo.

Na visão do economista da XP Investimentos Vitor Vidal, a trajetória do mercado de trabalho está mais benigna do que o previsto inicialmente. "O dado de hoje eu considero bem melhor do que o esperado."

As contas "mensalizadas" da Pnad Contínua mostram que houve geração de vagas em outubro. Vidal estimou a criação de 1 milhão de postos de trabalho no mês. As contas da LCA Consultores apontam para a geração de 1,058 milhão de vagas, entre formais e informais, já considerando ajustes sazonais, informou Bruno Imaizumi, economista da consultoria. 

Início de recuperação. Por outro lado, os dados apontam que a geração de vagas na passagem de um trimestre móvel para o seguinte está longe de recuperar tudo o que foi perdido desde o início da crise. Na comparação com igual período de 2019, a queda de 10,4% da população ocupada aponta para o fechamento de 9,754 milhões de vagas.

Mesmo levando em conta a recente geração de vagas, 32,548 milhões de pessoas estavam na população subutilizada – espécie de medida ampliada do desemprego, que inclui desocupados, subocupados por insuficiência de horas (trabalhadores que poderiam e gostariam de trabalhar mais) e a força de trabalho potencial (trabalhadores que não procuraram emprego, mas gostariam de trabalhar).

Segundo a coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Maria Lúcia Vieira, os dados apontam para uma retomada, mas "não dá para cravar nada" sobre os rumos daqui para a frente. "Ainda estamos em patamares aquém de 2019, mas já começamos a observar um início de recuperação. Se não acontecer nenhuma situação inesperada em termos de conjuntura ou pandemia, podemos, sim, esperar uma retomada."   

Cautela

"O resultado mostrou uma força inesperada, denota uma recuperação da economia ao menos marginalmente mais célere (...) Mesmo assim, é uma constatação frágil."

Étore Sanchez

ECONOMISTA-CHEFE DA ATIVA INVESTIMENTOS