O Estado de São Paulo, n. 46477, 16/01/2021. Política, p. A10

Maia vê como “inevitável” debate sobre impeachment
Bruno Ribeiro
16/01/2021



Presidente da Câmara prevê discussão no futuro e Doria cobra reação a atual governo

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ontem que o afastamento do presidente Jair Bolsonaro do cargo, “de forma inevitável, será debatido (pelo Congresso) no futuro”. A declaração de Maia foi dada ao lado do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e do seu candidato à sucessão da Casa, Baleia Rossi (MDB-SP), no Palácio dos Bandeirantes. Doria também subiu o tom contra o presidente no momento em que Bolsonaro sofre críticas pela condução da pandemia do novo coronavírus, em especial, sobre a situação em Manaus, onde se esgotou o oxigênio usado para o tratamento de pacientes graves da covid-19.

Ao comentar o drama no Amazonas, e sem falar a palavra “impeachment”, o governador paulista cobrou uma “reação” do Congresso ao governo Bolsonaro – a quem chamou de “facínora”. Pela primeira vez, Doria defendeu uma ação para retirar o presidente e chegou a convocar a população para fazer panelaços contra ele. “Se não fizermos isso, em dois anos o Brasil estará destruído pela incompetência (de Bolsonaro).”

As afirmações geraram reação contundente do presidente. Em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, da TV Band, Bolsonaro atacou o governador de São Paulo, chamando-o de “moleque”, e disse que o tucano se aliou a Maia para tirá-lo do cargo. “Eles querem essa cadeira (de presidente) para roubar, para fazer o que sempre fizeram. Estamos dois anos sem corrupção, isso incomoda Maia e Doria .”  

Almoço. Doria, Maia e Baleia Rossi concederam uma entrevista coletiva após um almoço em apoio à candidatura do deputado emedebista para a presidência da Câmara. O encontro na sede do governo paulista contou com a participação de 20 deputados, de partidos como PSDB, MDB, DEM, Cidadania, PV, Podemos, Novo e PSL. Baleia tem apoio declarado de 11 partidos do Legislativo.

Ele foi mais comedido na fala. Afirmou que a avaliação de pedidos de impeachment é atribuição da Câmara e que os pedidos já existentes e que venham a ser apresentados serão apreciados “de acordo com a Constituição”. Baleia voltou a defender que sua candidatura à presidência da Câmara não é uma candidatura de “oposição ao governo, mas de independência da Câmara”. “Uma candidatura não pode ter como bandeira o impedimento do presidente”, disse o emedebista.

Doria, porém, falou em reação. “Será que o Brasil que já se mobilizou nas ruas pela mudança, pelas Diretas-já, por movimentos cívicos importantes, de ordem popular, vai ficar quieto e não vai reagir?”

Ao ser questionado se a “reação” significaria aceitar um processo de impedimento contra o presidente, Doria respondeu que o movimento deveria ser de todos. “Reaja, Brasil, reaja o Congresso Nacional. Cumpram o seu papel, sim, a Câmara e o Senado. Aquele que lhe cabe. E cada parlamentar sabe seu papel, a força que lhe cabe e a sua representatividade. Reajam governadores, prefeitos, dirigentes sindicais e formadores de opinião. Ampliem a reação da imprensa, um dos poucos segmentos do País que têm se mantido na firmeza de contrapor-se a um facínora que comanda o País. Reajam os que podem reagir”, declarou.

Embora tenha considerado inevitável a análise de um eventual afastamento do presidente, Maia disse que o assunto mais urgente é discutir a situação do País no combate à pandemia do novo coronavírus.