Título: Lula busca aproximação com o Caribe
Autor: Almir Nascimento Gisele Teixeira Secretário
Fonte: Jornal do Brasil, 07/02/2005, Economia, p. A14

Presidente aproveita Reunião de Cúpula de países da região para visitar Guiana e Suriname ''O Brasil ficou muito tempo com as costas viradas para a América do Sul''

BRASÍLIA - Logo após o Carnaval, entre os dias 14 e 16 de fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará uma viagem à Guiana e ao Suriname - os únicos países da América do Sul que não visitou depois de tomar posse. No Suriname, onde chega dia 16 de fevereiro, o presidente participa da XVI Reunião de Cúpula da Comunidade dos Países do Caribe (Caricon), em Paramaribo. O roteiro faz parte do esforço do governo em se aproximar das nações da região e também de tirar do papel este ano a Comunidade Sul-Americana de Nações.

A programação inclui uma passagem ''relâmpago'' pela Venezuela para almoço com o presidente Hugo Chávez. Há uma expectativa de que Lula aproveite para assinar, com o país vizinho, um mega acordo de cooperação técnica nas áreas de infra-estrutura, energia e petróleo. Mas os detalhes ainda não foram divulgados.

A parceria vem sendo costurada pela ministra de Minas e Energia, Dilma Roussef, e pelo assessor internacional Marco Aurélio Garcia. Ambos estiveram em Caracas, em janeiro, acompanhados de uma delegação formada por representantes da Petrobras, da Eletrobrás e de empresas privadas.

Segundo avalia o secretário Almir Nascimento, da Direção Geral de Promoção Comercial do Ministério das Relações Exteriores, a visita ao Suriname e Guiana terá um forte caráter simbólico e político.

- O Brasil ficou muito tempo com as costas viradas para a América do Sul, principalmente para os países de língua não- espanhola - diz.

Na Guiana, Lula deve encontrar-se com o chefe de Estado Bharrat Jagdeo, com o presidente da Assembléia Nacional, Ram Sardjoe, e com a comunidade brasileira do país.

O Itamaraty preparou um encontro comercial, em Georgetown, que deve concentrar empresários brasileiros do estado de Roraima, cuja capital Boa Vista faz divisa com a cidade de Lethen, na Guiana. Hoje, todo o transporte de mercadorias entre os dois países é feito de maneira informal e sem fiscalização. A proposta do governo é ocupar este espaço e transformá-lo em ''fronteira viva''.

Nascimento acrescenta que o Acordo de Transporte Rodoviário Internacional de Passageiros e Cargas, assinado em fevereiro do ano passado, mas ainda não aprovado pelo Congresso Nacional, é um passo importante para a ampliação das ligações entre os dois países.

- Queremos criar uma interdependência econômica - destaca Nascimento.

Embora muito pequeno, o volume de comércio Brasil-Guiana vem crescendo nos últimos cinco anos, e alcançou seu ápice no ano passado, atingindo US$ 13,6 milhões. Contudo, essa cifra corresponde a uma parcela pouco significativa do comércio total daquele país (apenas 1,9% dos US 572 milhões importados). A Guiana é, ainda, um mercado pouco explorado, mas com potencial para os produtos brasileiros.

Hoje, o país é suprido pelos Estados Unidos (via Miami) e Trinidad e Tobago. Mas, segundo estudos realizados pelo Itamaraty, o Brasil tem como aumentar as exportações de diversos produtos para a Guiana, como combustíveis, óleos minerais, calçados, adubos e equipamentos médicos.

Na pauta da visita ao Suriname, o Brasil espera que o país possa participar dos esforços voltados para a integração da América do Sul. Na última reunião de Cúpula do Mercosul, em Ouro Preto, em dezembro de 2004, o presidente Lula frisou a importância da ampliação do bloco, com a adesão da Colômbia, Equador e Venezuela, e disse que os próximos da lista seriam a Guiana e o Suriname.

O presidente Lula também deve tratar de temas como os brasileiros que trabalham de forma ilegal no país e cooperação na área de informações colhidas pelo Sistema de Vigilância na Amazônia (Sivam). As tratativas foram iniciadas pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em dezembro passado, durante visita ao Suriname.

O chanceler assinou um tratado de extradição e um acordo provisório de regulamentação de imigrantes, válido por um ano. Cerca de 40 mil brasileiros vivem ilegalmente no país, atraídos pelos garimpos de ouro. Eles alegam que muitos são presos e não conseguem voltar por falta de dinheiro.

Além disso, o Suriname é uma conexão internacional do tráfico de drogas e do contrabando de armas, usada por narcotraficantes brasileiros, e um dos destinos das redes de aliciamento de prostitutas brasileiras.