O Globo, n. 32032, 19/04/2021, País, p. 4

 

Presidente da comissão diz que não fará “negociata” com o governo

19/04/2021

 

 

Opção do Palácio do Planalto para comandar a CPI da Pandemia, o senador Omar Aziz (PSD-AM) afirmou ontem que não está disposto a fazer qualquer tipo de “negociata” com o governo para mudar o escopo da investigação. Com discurso duro, o futuro presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito disse que o Brasil “não fez absolutamente nada para impedir a entrada do vírus”.

— Não dá para uma pessoa como eu, que sou do estado do Amazonas, que foi um dos estados que mais sofreram com a pandemia, eu fazer de conta que não aconteceu nada. Você sabe por onde entrou o vírus no Amazonas? Não foi do povo humilde, foi da classe média alta. E não fizemos uma barreira sanitária. O Brasil não fez absolutamente nada para impedir a entrada do vírus no início. E eu vou ficar pensando em negociata com o governo? Com pessoas morrendo de oxigênio no meu estado? Não tem como —disse em entrevista à Globo News.

Aziz afirmou que tem postura independente e que suas ações mostrarão isso na condução dos trabalhos. Também afirmou que quer saber por que faltou oxigênio em Manaus e por que faltam acordos para a compra de vacinas:

— Perdi um irmão há 40 dias, mas eu não culpo ninguém, porque essa doença é fatal para qualquer pessoa. Eu não posso dizer que o presidente foi responsável pela morte do meu irmão, que o governador fez isso, eu quero é que mais vidas sejam salvas. E aí, não tem cargo no governo, não tem recurso pro estado que faça eu mudar um centímetro dessa nossa linha de investigação.

Aziz confirmou que vai indicar o senador Renan Calheiros (MDB-AL) para a relatoria da CPI. Renan, que participou da entrevista, disse que não entende a reação negativa do Palácio do Planalto ao seu nome e que vai defender a investigação de todos, até mesmo de parentes, se for preciso. O filho do senador é governador de Alagoas.

— É um despropósito inusitado. Sinceramente não sei por que isso acontece (resistência do governo). Quero dizer que sou parlamentar de longo curso. Não cheguei agora. Não quero fazer fama na CPI. Não tem por que o presidente (Bolsonaro) ficar preocupado. Não vamos fazer força-tarefa, não vamos fazer powerpoint contra o presidente da República, nada. Vamos apurar fatos —afirmou.