O Globo, n. 32032, 19/04/2021, Mundo, p. 23

 

Promessa de cooperação

19/04/2021

 

 

A China e os Estados Unidos afirmaram estarem “empenhados em cooperar” para fazer frente à crise climática global, e concordaram que compromissos ambientais mais ambiciosos devem ser introduzidos até o fim do ano. A declaração foi feita em um comunicado divulgado na manhã de ontem (noite de sábado no Brasil), no encerramento da visita do enviado climático do do presidente Joe Biden, John Kerry, a Xangai, às vésperas da Cúpula de Líderes sobre o Clima, organizada pela Casa Branca e que reunirá 40 chefes de Estado e governo nos dias 22 e 23 de abril, entre eles o presidente Jair Bolsonaro.

AUMENTO DE ATÉ 1,5°C

Washington e Pequim disseram estar “comprometidas a cooperar entre sie com outros países para enfrentara crise climática coma seriedade e urgência que ela exige ”, diz anota assinada por Kerry e Xie Zhenhua, enviado especial da China para as mudanças climáticas.

Eles afirmaram, ainda, que continuarão a discutir “ações concretas” para reduzir até 2030 as emissões de gases causadores do efeito estufa, reafirmando o compromisso assumi dono Acordo de Paris delimitar o aumento da temperatura global amenos de 2°C acima dos níveis pré-industriais. No pacto de 2015, os países signatários adotaram metas voluntárias para reduzira emissão de gases poluentes.

Kerry e Xie se comprometeram também a fazer esforços para tentar manter o aumento em nível inferior a 1,5°C, considerado o valor máximo antes de efeitos catastróficos. Para isso, será necessário alcançar a neutralidade de carbono — ou seja, um saldo de emissões igual a zero —até 2050.

A meta mais ambiciosa é impulsionada por Biden, que busca usar a cúpula desta semana para convencer outras nações a aumentarem os objetivos assumidos há seis anos. A intenção é que isso seja feito antes da COP-26, conferência climática da ONU que acontecerá em novembro, em Glasgow, na Escócia.

— É muito importante que tentemos deixar outras coisas de lado, porque o clima é uma questão de vida e morte em tantas partes do mundo —disse Kerry ontem ao comentar os três dias de reuniões com Xie, referindo-se à rivalidade entre as duas potências.

Responsável por 28% dos gases causadores de efeito estufa emitidos no planeta, a China prometeu vagamente no ano passado atingira neutralidade de carbono até 2060. Um dos fins da Casa Branca com sua cúpula é que os chineses consolidem essa proposta.

Os EUA são o segundo maior poluidor, tendo sido responsáveis por 15% das emissões em 2020. Buscando servir de exemplo, a Casa Branca deverá anunciar durante sua cúpula uma meta atualizada para reduzir suas emissões em 50% até o fim desta década, quase o dobro do anteriormente prometido.

Em seu comunicado, Kerry e Xie se comprometeram a criar estratégias de longo prazo para chegar à neutralidade do carbono e apresentá-las até a COP-26. Também disseram que irão apoiara transição de países emergentes para formas de energia limpas “sempre que possível”, sem especificar como. Eles afirmaram ainda que tomarão medidas para reduzira emissão de hidro fluorcarbonetos, objetivo da Emenda Kigali do Protocolo de Montreal, à qual a China prometeu aderir na última sexta-feira.

Kerry chegou na quarta-feiraa Xangai, um dos destinos finais de sua turnê global, sendo o primeiro emissário da alta cúpula da Casa Branca a visitar o gigante asiático após aposse de Biden, em 20 de janeiro.

As discussões ambientais bilaterais foram praticamente interrompidas no governo de Donald Trump (2017-2021), que abandonou o Acordo de Paris em junho de 2017, afirmando que seus termos “prejudicariam” a economia americana e poriam o país em “desvantagem permanente ”.

DISPUTA POR PROTAGONISMO

Biden retornou ao pacto horas após a sua posse e, desde então, se concentra em transformar os EUA em uma liderança na ação ambiental. O protagonismo também é disputado pela China, impasse que cria um obstáculo para uma maior colaboração, apesar dos compromissos traçados no comunicado conjunto.

Sinal disso veio na sexta-feira, durante a visita de Kerry, quando o porta-voz da Chancelaria chinesa, Zhao Lijian, disse a repórteres que os americanos são responsáveis por atrasar o cumprimento do Acordo de Paris. De acordo com o porta-voz, os EUA “deveriam ter vergonha” de tê-lo abandonado e ainda não deixam claro como farão para recuperar o tempo perdido.