O Globo, n. 32021, 08/04/2021, Economia, p. 22
Bolsonaro diz que reajuste do gás ‘é inadmissível'
Guilherme Caetano
08/04/2021
Em visita a Foz do Iguaçu (PR) na tarde de ontem, o presidente Jair Bolsonaro chamou de “inadmissível” o aumento de 39% no preço do gás natural para as distribuidoras, anunciado segundafeira pela Petrobras. Ele afirmou que não vai interferir na empresa, mas que “pode mudar essa política de preços”:
— Uma empresa, mais do que transparência, tem que ter previsibilidade. É inadmissível se anunciar agora, o velho presidente ainda, um reajuste de 39% no gás. É inadmissível. Que contratos foram esses? Que acordos foram esses? Foram feitos pensando no Brasil? Não vou interferir. Mas podemos mudar essa política de preços lá.
O reajuste será repassado ao consumidor final, embora não na mesma proporção, segundo a associação que reúne as distribuidoras. O aumento não afeta o gás liquefeito de petróleo (GLP), o chamado gás de cozinha, que subiu 5% no sábado e já acumula alta de 22,7% em 2021, mas impacta o GNV e o gás encanado que chega às casas e às indústrias.
A declaração reforçou no mercado a percepção de intervenção do presidente nas estatais e prejudicou o desempenho das ações da Petrobras no fim do pregão na Bolsa. Os papéis, que chegaram a ter valorização de mais de 1%, fecharam com alta de 0,46% (ordinários, com direito a voto) e com queda de 0,08% (preferenciais, sem direito a voto).
TROCA DE COMANDO
Insatisfeito com a política de preços dos combustíveis da estatal, que seguem as oscilações de câmbio e a cotação internacional, Bolsonaro demitiu o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, em fevereiro.
O general Joaquim Silva e Luna, que está há dois anos e três meses no comando da Itaipu Binacional, substituirá Castello Branco. Ontem, a cerimônia em Foz do Iguaçu que teve a presença de Bolsonaro foi realizada justamente para empossar o sucessor de Silva e Luna no cargo, o também general João Francisco Ferreira.
Bolsonaro defendeu a previsibilidade na política de preços da Petrobras, mas não explicou como deve garanti-la:
— Mandei um projeto de lei para a Câmara há poucas semanas. (Queremos) cumprir uma emenda constitucional de 2001, que fala do valor do ICMS em todo o Brasil. ICMS da gasolina, do álcool, do diesel, do gás.
O que queremos é transparência. Vocês (consumidores) têm que saber quanto o governo federal arrecada de imposto em cada combustível e quanto os governadores arrecadam nos mesmos combustíveis. Isso é pedir muito?
Na opinião do presidente, pedir transparência não é interferir na empresa:
— Não pode toda vez que sobe o preço do combustível mais alguns centavos, esses centavos serem multiplicados na ponta da linha pela voracidade da arrecadação de imposto. Não pode toda vez que diminui o preço do combustível, na bomba não diminuir. Estou pedindo algo de anormal? Estou querendo interferir numa estatal ou estou querendo transparência dessa estatal?
A assembleia de acionistas da Petrobras que deve confirmar Silva e Luna como novo presidente está marcada para segunda-feira.