Título: PT perde mais 112 rebeldes
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 01/02/2005, País, p. A3
Liderado por Plínio de Arruda Sampaio Júnior, grupo anuncia desligamento e ameaça aumentar para 400 o número de dissidentes BRASÍLIA - A menos de 10 dias de completar 25 anos, o PT perdeu mais uma centena de ''filhos rebeldes''. Na noite de sábado, um grupo de 112 filiados ao partido que alçou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto aproveitou o Fórum Social Mundial em Porto Alegre para anunciar o desligamento da sigla. À frente do movimento, um quadro histórico petista: o economista Plínio de Arruda Sampaio Júnior, que passa a integrar um grupo cada vez maior de dissidentes.
O presidente da legenda, José Genoino, afirmou ontem que vê com naturalidade a saída dos militantes.
- Os companheiros já estavam praticamente fora do PT. O partido vive um bom momento - esquivou-se.
Genoino também negou que a sigla tenha perdido a identidade - como disseram os signatários da lista - alegando que o PT ''mantém seu compromisso com os ideais de sua fundação''.
Enquanto diminui a importância dos efeitos da debandada, internamente a cúpula do partido trabalha para fortalecer os laços com sua base e movimentos sociais. Essa reaproximação está sendo encarada pelos petistas como uma espécie de reação à dissidência. A intenção é evitar que a defecção no partido seja ainda maior. No manifesto articulado por Sampaio Júnior, os históricos do PT atribuem sua saída, entre outras razões, ao fato de o partido ter deixado de lutar por mudanças sociais.
- Estamos conclamando mais petistas a virem conosco. Queremos reunir 400 companheiros - informou Plínio.
Na sexta-feira, ainda durante o Fórum Social Mundial, Genoino reconheceu que a legenda precisa aprofundar a relação entre a militância política do PT e os movimentos sociais.
- Não podemos nos afastar - alertou Genoino.
Na agenda das comemorações pelos 25 anos do partido, está previsto para o dia 19 de março uma conferência nacional em Belo Horizonte em que será discutido justamente ''os rumos do PT''. Lideranças, parlamentares e militantes de todo o país vão debater o futuro do partido. Para integrantes da chamada ala esquerda petista, a conferência será uma oportunidade para repensar a legenda, agora que está no governo.
Em recente entrevista, Plínio de Arruda Sampaio Júnior referiu-se ao governo Lula como a negação de todo um passado de luta social que, com maior ou menor intensidade, caracterizou a atuação do PT e de seus aliados de esquerda nos últimos 25 anos. Em sua avaliação, ao contrário do que o marketing político procura vender, o governo Lula não tem nem o mais remoto comprometimento com as bandeiras da esquerda e do socialismo.
- Não haverá correção de rota. Não existe plano B. Portanto, não há como esconder o sol com a peneira. O governo Lula representa uma grande derrota para as esquerdas - afirmou.
Por hora, segundo Plínio Sampaio, não está em sendo aventada a possibilidade de criação de um novo partido. Ainda nesta semana, o grupo deve se reunir para definir os próximos passos.
A debandada de petistas históricos no último sábado não foi a primeira vez que o PT experimentou a ruptura interna. Em 15 de janeiro de 1985, depois de contrariarem uma orientação do partido de não comparecer ao Colégio Eleitoral e votar em Tancredo Neves na disputa contra Paulo Maluf, os deputados Bete Mendes, José Eudes e Airton Soares foram expulsos do partido .
Em dezembro de 2003, a senadora Heloísa Helena (AL) e os deputados Luciana Genro (RS), João Fontes (SE) e João Batista Babá (PA) também foram expulsos por terem votado contra as reformas enviadas por Lula ao Congresso. Fundaram o P-SOL. Hoje o novo partido de esquerda é a principal alternativa para o grupo de Plínio Sampaio. No ano passado, o partido perdeu também o sociólogo Chico de Oliveira, que fez severas críticas sobre as escolhas do governo Lula.