O Estado de São Paulo, n. 46481, 20/01/2021. Política, p. A8

Adversários, Simone e Pacheco votam de maneira semelhante.
Daniel Weterman 
20/01/2021



Candidatos à presidência do Senado estiveram do mesmo lado em 92,65% das propostas, aponta levantamento  

Adversários na disputa pela presidência do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Simone Tebet (MDB-MS) votaram da mesma forma em quase todas as medidas analisadas pela Casa na atual legislatura. Os dois estiveram do mesmo lado em 92,65% de 126 propostas votadas desde 2019, o que torna Pacheco o senador mais alinhado a Simone entre todos os demais 80 senadores, de acordo com levantamento da Inteligov, consultoria especializada em analisar dados do Legislativo.

Na lista das votações do período estão desde a reforma da Previdência, em que ambos foram a favor, até propostas menos polêmicas, como a antecipação da vigência da Lei Geral de Proteção de Dados, que mudou as regras para tratamento de dados pessoais por empresas, em que ela foi contra e ele, a favor. Embora seja Pacheco o candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, a emedebista esteve mais vezes alinhada ao governo nas votações (92,47% da vezes, ante 89,63%). A análise da Inteligov considera apenas as propostas em que ambos registraram o voto de maneira aberta.

Apesar de agora estarem em campos opostos, os dois tentam se diferenciar na busca por apoios na disputa pelo comando do Senado. O candidato do DEM tem como principal cabo eleitoral o atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e conseguiu reunir nove partidos em torno de sua candidatura, incluindo o PT, maior legenda de oposição. Ao todo, essas siglas somam 41 parlamentares, número suficiente para ele vencer a eleição marcada para fevereiro. Simone, por sua vez, tem adotado o discurso de independência do Senado em relação ao Planalto para atrair mais votos. Além do MDB, maior bancada da Casa, ela conseguiu atrair para o seu lado o Podemos e o Cidadania, somando 27 parlamentares.

A eleição em fevereiro definirá quem comandará o Senado pelos próximos dois anos. O titular da vaga será decisivo para determinar os rumos do Congresso até 2022, ano de eleição presidencial, quando Bolsonaro deve tentar novo mandato.

De 126 votações em comum nos dois últimos anos, Simone e Pacheco votaram de forma diferente em apenas dez propostas, de acordo com o levantamento. Uma delas foi na proposta de emenda à Constituição (PEC) que adiou as eleições municipais de outubro para novembro do ano passado em função da covid-19. O senador do DEM foi favorável, contrariando a posição do líder do Progressistas, Ciro Nogueira (PI), que apoia Pacheco na sucessão. A candidata do MDB, na contramão da maioria, votou contra o adiamento do pleito.

Os dois estiveram juntos principalmente em votações de pautas econômicas, como a reforma da Previdência, medida que teve origem no governo, mas que avançou em grande parte por iniciativa dos parlamentares. No entanto, eles também se alinharam ao impor derrotas marcantes para Bolsonaro, em especial nas pautas de costume.  

Convergência. Os candidatos votaram juntos, por exemplo, ao rejeitar o decreto que flexibilizava as regras de porte de armas no País, para aprovar o projeto de lei que regula o uso de redes sociais para evitar a disseminação de fake news e para derrubar o veto do presidente ao reajuste do funcionalismo público durante a pandemia do novo coronavírus.

Nesta semana, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) declarou apoio a Pacheco em uma mensagem no Twitter.

Imediatamente após a manifestação, o filho de Bolsonaro foi cobrado por seguidores por apoiar um senador favorável à "lei da censura", nome dado pela rede bolsonarista ao projeto das fake news. A proposta foi aprovada em junho e está em tramitação na Câmara.  

Lava Jato. O alinhamento entre os senadores nas votações fez os partidos optarem pelo pragmatismo na hora de escolher quem apoiar na disputa pelo Senado. Em entrevista ao Estadão/broadcast na semana passada, o líder do PT na Casa, Rogério Carvalho (SE), questionou a suposta independência do MDB e justificou que a bancada fez uma opção pelo perfil de Pacheco. A rejeição à Operação Lava Jato foi um dos motivos para os petistas rechaçarem apoio à candidatura do MDB.

Apesar do aceno do Palácio do Planalto, aliados de Pacheco querem afastar a marca de candidato do presidente da República. "Ele não é candidato do Bolsonaro. É candidato dos senadores que declararam apoio", afirmou o líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA), partido com a segunda maior bancada da Casa.

Pacheco atraiu o apoio de nove partidos. Tebet, por sua vez, conta com três bancadas. Nos dois lados, porém, há sinais de dissidências.

"As duas candidaturas representam a mesma coisa, continuísmo na postura subserviente do Senado em relação aos outros poderes", disse Major Olimpio (PSL-SP), que também lançou candidatura à vaga e corre por fora.