O Estado de São Paulo, n. 46488, 27/01/2021. Economia, p B3.

 

Guedes acena com socorro se mortos ficarem em mil/dia

Idiana Tomazelli

Eduardo Laguna 

27/01/2021

 

 

Ministro, porém, diz que, para dar auxílio, servidores ficarão sem reajuste e recursos para educação e segurança serão congelados

Pressionado a relançar o auxílio emergencial para dar assistência a famílias vulneráveis, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ontem que o governo pode retomar os programas de socorro, caso haja o entendimento de que o número de mortes por covid-19 continuará acima de mil por dia e de que a vacinação poderá atrasar.

Nessa situação, o ministro disse que será declarado novamente "estado de guerra". Mas ele alertou que essas medidas precisarão vir acompanhadas de ações para conter gastos e ajudar a "pagar a conta" dessa batalha, como o congelamento de salário dos servidores por dois anos e o não aumento automático de verbas para educação, saúde e segurança.

"Se a pandemia se agrava e continua 1,5 mil mortes por dia, a vacina não chega e falhamos miseravelmente, mas não acredito nisso... Mas caso o pior aconteça, temos protocolo da crise, aperfeiçoado agora", afirmou Guedes em evento online do banco Credit Suisse. "Se disser que a pandemia está realmente assolando o Brasil de novo, você vai declarar estado de guerra, como a gente declarou no ano passado."

O ministro citou diferentes referências, em termos de número de mortes diárias por covid-19, para deflagrar o estado de guerra. Os números ditos pelo ministro ficaram entre 1 mil e 1,6 mil óbitos por dia. "Se a pandemia faz a segunda onda, com mais de 1,5 mil, 1,6 mil, 1,3 mil mortes, saberemos agir com o mesmo tom decisivo, mas temos que observar se é o caso ou não", disse Guedes em outro momento.

No Brasil, o recorde de número de mortes por covid-19 foi registrado em 4 de agosto de 2020, com 1.394 óbitos. O segundo maior número foi em 8 de janeiro deste ano, com 1.379 mortes. Na terça-feira, 25, de acordo com dados do consórcio de veículos de imprensa, a média móvel de mortes – que registra as oscilações dos últimos sete dias e elimina distorções entre um número alto de meio de semana e baixo de fim de semana – ficou em 1.058. Há seis dias, o patamar está acima de mil mortes.

Segundo Guedes, o estado de guerra inclui medidas de ajuda, mas contempla também uma série de iniciativas para conter despesas. "Estado de guerra é não ter reajuste pro funcionalismo por dois anos, (ter) pisos bloqueados, acabou essa coisa de subir automaticamente".

"Quer criar o auxílio emergencial de novo? Tem que ter muito cuidado. Pensa bastante, porque se fizer isso, não pode ter aumento automático de verbas para a educação, para segurança pública, porque a prioridade passou a ser absoluta, é uma guerra, e durante a guerra, é fazer armamento bélico. Pega os episódios de guerra aí e vê se teve aumento de salário durante a guerra, se teve dinheiro para saúde, educação. Não tem. É dinheiro pra guerra. Aqui é a mesma coisa. Se apertar o botão ali, vai ter que travar o resto todo. Então vamos observar a economia, vamos observar a saúde, os dois andam juntos, e vamos esperar o melhor", afirmou.

Cuidado

"Quer criar o auxílio emergencial de novo? Pensa bastante, porque se fizer isso, não pode ter aumento de verbas para a educação, para segurança pública..."

Paulo Guedes

MINISTRO DA ECONOMIA