O Globo, n. 32033, 20/04/2021, País, p. 10

 

PSL resiste a reabrigar Bolsonaro, que buscará outra sigla para 2022
Bruno Goés
Paulo Cappelli
20/04/2021

 

 

 

Ainda sem um partido para disputar a reeleição, o presidente Jair Bolsonaro está mais distante da possibilidade de retornar ao PSL, sigla pela qual se elegeu em 2018. Em entrevista ao GLOBO, o presidente da legenda, Luciano Bivar (PE), sinalizou a dificuldade da operação. Ele afirmou que o partido “nunca foi de direita” e almeja ter uma candidatura em 2022 distante da atuação mais radicalizada do presidente, além de defender uma agenda mais liberal na economia. O dirigente disse não acreditar numa moderação do presidente.

— E eu não acredito que o presidente saia da sua linha —disse Bivar.

Na semana passada, Bolsonaro indicou que decidirá sua nova casa “em breve”. A agenda atribulada, que envolve o impasse em torno do Orçamento, atrasou as negociações, mas uma definição  é esperada até o fim do mês. Recentemente, ele incluiu o Partido da Mulher Brasileira (PMB) no leque de opções para se filiar. A interlocutores, o presidente disse vera legenda como uma “boa possibilidade”, principalmente após as negociações com o Patriota, que era o preferido do chefe do Executivo, arrefecerem.

O projeto de criação do Aliança, que chegou a ser incentivado por bolsonaristas logo após o rompimento do PSL, fracassou. Não haverá tempo hábil para que o partido possa ser registrado para a eleição de 2022.

Bolsonaro também retomou negociações com partidos como PSC, DC e PMN. Outras siglas, com uma estrutura maior, chegaram a sondar o presidente, como Republicanos, PTB e PL, mas as conversas não avançaram. Bolsonaro quer ter o controle partidário para evitar o que ocorreu com o PSL. Em 2019, Bivar não cedeu às tentativas de domínio da estrutura da sigla e veio o rompimento.

Bivar também negou que possa haver a saída de filiados do PSL sem uma justificativa plausível. Bolsonaro exigia a expulsão de quadros do partido para voltar à antiga casa. O presidente tem desentendimento com vários parlamentares da sigla, como Julian Lemos (PB), Joice Hasselmann (SP) e Junior Bozella (SP).

Bivar criticou ainda a condução do governo federal durante a pandemia. Entende que Bolsonaro errou e que o fracasso do Palácio do Planalto está demonstrado na “quantidade de mortes”.

Na quarta-feira da próxima semana, o PSL começa a debater os nomes que podem ser viáveis para a disputa de 2022. Bivar diz que espera ter uma candidatura própria, embora cite como bons nomes de pré-candidatos ligados a outras siglas. Ele menciona figuras como Eduardo Leite (PSDB-RS), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Luciano Huck (sem partido).