O Globo, n. 32034, 21/04/2021, País, p. 4

 

Governadores pedem interlocução direta com EUA
Henrique Gomes Batista
21/04/2021

 

 

 

Um grupo com 24 dos 27 governadores do país entregou ontem a Todd Chapman, embaixador americano no Brasil, uma carta em que se comprometem com a “emergência climática global” e pedem cooperação para questões ambientais. Denominado Coalizão Governadores pelo Clima, o grupo visa se contrapor ao governo Bolsonaro, criticado mundialmente por sua política ambiental, dias antes da Cúpula de Líderes sobre o Clima, convocada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e que começará amanhã.

— Foi uma conversa boa com o embaixador americano, ele prometeu que enviará hoje (ontem) ainda a carta à Casa Branca e pedimos a ele uma conexão e um canal de comunicação com o governo americano para que possamos tratar do tema das mudanças climáticas —afirmou o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), que articulou o documento e que participou da reunião virtual junto com seus colegas Paulo Câmara (PSB-PE), representando o Nordeste, Helder Barbalho (MDB-PA), pelo Norte, e Mauro Mendes (DEM-MT), pelo Centro-Oeste.

Não assinaram o documento a governadora interina de Santa Catarina , Daniela Reinehr (sem partido), o de Rondônia, Coronel Marcos Rocha (PSL), e o de Roraima, Antonio Denarium (sem partido). Juntos, estes estados somam uma população de 9,7 milhões de pessoas, ou apenas 4,5% do país.

Para Casagrande, as ausências não são um problema. “A coalizão Governadores Pelo Clima, ampla e diversa, envolvendo progressistas, moderados e conservadores, de situação e de oposição, sinaliza o desejo do Brasil por união e construção colaborativa de soluções em defesa da humanidade e de todas as espécies de vida que estão ameaçadas pela degradação de ecossistemas”, afirma a carta.

O governador capixaba disse ainda que a carta não é uma afronta ao governo federal:

— Nestes últimos dois anos e pouco, o governo federal não deu muita atenção ao tema ambiental, mas queremos que ele dê, e estamos fazendo isso para que o governo federal possa recuperar a sua prática, entrar no tema e nós também entrarmos no tema, junto com toda a sociedade brasileira —afirmou Casagrande.

Ele, contudo, diz não descartar uma articulação direta dos estados com outros países se o governo federal se omitir, repetindo o que ocorreu no tema climático nos Estados Unidos durante o governo de Donald Trump.

— Os estados brasileiros têm responsabilidades e compromissos, independente do governo federal. Nós queremos que o governo federal esteja junto, mas nós podemos desenvolver as nossas ações, com mais dificuldade, independente do governo federal.