O Globo, n. 32034, 21/04/2021, País, p. 6

 

Governista quer cloroquina fora do foco da CPI
Julia Lindner
21/04/2021

 

 

 

Membro titular da CPI da Covid, o vice-líder do governo no Senado, Marcos Rogério (DEM-RO), defendeu que a comissão não investigue a defesa dos medicamentos sem comprovação científica, como a cloroquina, cujo uso foi estimulado pelo presidente Jair Bolsonaro. Um dos integrantes da minoria governista da CPI, o senador também afirma que, além de apurar a conduta da União, é preciso “seguir o dinheiro” dos repasses federais a estados e municípios durante a pandemia. Em outra frente, ele concorda que a comissão investigue se houve falhas na aquisição de vacinas.

Marcos Rogério reconhece que aposição de minoria dificulta eventual defesa do governo e critica a desarticulação do Palácio do Planalto em relação ao colegiado. Para ele, o plano de trabalho da CPI deve manter apenas os temas que são consenso entre a comunidade científica, como a imunização da população. Sobre medicamentos sem eficácia comprovada, defende que ainda não há umares postas obre qualre médio o up roto coloéo mais adequado eque cabe ao médico a decisão sobre oque será administrado no paciente.

— Existem medicamentos no meio de todos esses que, se você for ouvir um especialista, elevai dizer assim: esse corti co ide faz explodira carga viral. E aí? O que é mais grave? Estou querendo dizer é que, se for pores se caminho, vai sera CPI do Fim do Mundo. Vamos focar onde está o problema. Erros do ponto de vista da política, do palpite equivocado ok. Masquem administra medicamento é o médico. Ores toé só opinião —declarou.

A cloroquina, um dos prováveis focos da investigação por ter sido produzida pelo Exército e estimulada pelo Ministério da Saúde através de um aplicativo, é comprovadamente ineficaz.

PERDEU O ‘TIMING’

Sobre a articulação do governo, o senador avalia que o Planalto perdeu o timing na composição dos membros e agora está em minoria no colegiado. Diante da insatisfação, a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, o procurou pela primeira vez ontem para tentar desfazer o mal-estar.

—Num tema mais sensível, como é uma CPI, seria necessário um pouco mais de articulação. O governo não tem que temer a investigação, apenas fazer um esforço para garantir que ela seja justa e faça as apurações necessárias para chegar no problema. Se o problema não está aqui, está em algum lugar. Porque faltou lá na ponta hospitais para atender as pessoas, faltou medicamento, faltou médico. Então, teve erro. Quem cometeu esse erro? Foi o presidente da República, governador ou foi o prefeito? A sociedade quer resposta —declarou Rogério.

Como mostrou O GLOBO, governistas relataram que nem mesmo eles foram procurados pelo Planalto nos últimos dias par afalar sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito. O governo não conseguiu conter avanços da oposição e da ala independente na indicação de membros, que são maioria. Isso também se refletiu nos acordos entre os adversários do presidente JairBol sonar opara conquistar os cargos de comando — a presidência deve ficar com Omar Aziz (PSDAM) e a relatoria com Renan Calheiros (MDB-AL).

— Não houve por parte de quem faz a inteligência da política do governo uma cautela em relação às indicações para a CPI. Foi quem quis ir. Do ponto de vista de avaliação política, em relação à composição, o governo não teve o cuidado de tentar. Você tem os partidos políticos, e qual o nível de ligação o partido A ou o partido B tem com o governo? Se o partido A tem uma ligação com o governo e, em alguma medida, ele indica dois de oposição, tem alguma coisa fora do lugar —avaliou o senador.

MAIS EMPENHO

O vice-líder disseque Bolso na rotemo perfil de deixara articulação mais solta no Congresso, e os parlamentar estiveram boa vontade como governo até aqui em outras situações. Nocas oda CPI, entretanto, ele Marcos Rogério avalia queédiferen tepor se rum assunto mais sensível.

Responsável pela articulação política, a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, procurou apenas ontem Marcos Rogério, após saber que ele estava insatisfeito.

— Ela disse que acabou de assumir e estava tirando o tempo dela. Entendo a justificativa, mas o das coisas aqui dentro não aceita isso. O argumento não muda o cenário —diz Marcos Rogério.