Título: No mercado, elas são vítimas do preconceito
Autor: André Augusto Castro
Fonte: Jornal do Brasil, 07/03/2005, Brasília, p. D3

A pesquisadora Maria Lea, conta ainda que, logo no início de sua carreira, teve de optar por outro curso por conta desse preconceito. Ela queria estudar na Escola de Minas de Ouro Preto (MG), mas não pôde por ser mulher. Acabou estudando História Natural na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mas esse não foi o único episódio. Como trabalha com microfósseis, importantes para empresas de petróleo, Lea tentou uma vaga em uma grande companhia exploradora. Não conseguiu: o posto era restrito a homens. - Acredito que, na academia, não há preconceito contra a mulher porque a situação é muito parecida. Mas, nas empresas, ainda é sim - avalia.

A impressão de Lea é confirmada por dados da Síntese de Indicadores Sociais de 2004 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números mostram que, em 2003, as mulheres brasileiras conquistaram mais espaço no mercado de trabalho e superaram os homens em escolaridade, mas não conseguiram vencer as desigualdades com o sexo masculino quanto a salários e cargos: elas recebem cerca de 40% menos que os homens para tarefas semelhantes.

Para a professora do Instituto de Psicologia da UnB Maria Fátima Olivier Sudbrack, parte dessas mudanças pode ser creditada ao movimento feminista que contribuiu para abrir muitos espaços e conscientizar a mulher e a sociedade sobre a relação de dominação estabelecida ao longo da história. Ela acredita que as diferenças entre homens e mulheres devem ser preservadas.

- Progresso é eliminar desigualdades e não as diferenças. O desafio é conciliá-las - avalia.

Fato é que, mesmo com a tripla jornada e as dificuldades para progredir na carreira, as mulheres têm escapado do diagnóstico feito pela bolsista de Pibic em Ecologia Patrícia Ribeiro:

- Vemos muitas mulheres na entrada na universidade, mas nos postos mais altos há mais homens, porque elas acabam desistindo por todas essas questões.

Para o decano de Pesquisa e Pós-graduação da UnB, Noraí Rocco, os dados projetam a possibilidade de uma grande mudança no futuro.

- Se essas alunas envolvidas com a iniciação continuarem na vida acadêmica, teremos um contingente cada vez maior de mulheres nos programas de mestrado e doutorado e, conseqüentemente, também de docentes do sexo feminino - com doutorado - no ensino superior - analisa o decano.