Título: A cada dia mais doutoras no País
Autor: André Augusto Castro
Fonte: Jornal do Brasil, 07/03/2005, Brasília, p. D3

Pesquisa do MEC revela que o número de mulheres docentes com doutorado cresceu 104%, entre 1998 e 2004 A mais recente pesquisa do Ministério da Educação (MEC), feita pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Trajetória da Mulher na Educação Brasileira, mostra que o número de docentes do sexo feminino com título de doutorado aumentou de 10.504 em 1998 para 21.431 em 2003 - crescimento de 104%. Na Universidade de Brasília (UnB), o número de docentes doutoras também cresceu, mas em uma taxa consideravelmente menor. Foi de 268, em 1998, para 321, em 2004, apenas 19,7%. Mas, de acordo com o decano de Pesquisa e Pós-graduação da instituição, Noraí Rocco, há uma explicação. Proporcionalmente, a UnB tem mais homens no corpo docente e a instituição não teve reposição do quadro de professores. - Na prática, isso mostra que as nossas docentes que tinham título de mestrado agora são doutoras - aponta.

Além disso, dos 31 docentes da UnB afastados para doutoramento no País, 20 são do sexo feminino. Dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) apontam para uma condição de eqüidade ao longo do tempo. Apesar de atualmente receberem 48,1% das bolsas de qualificação da entidade, enquanto os homens detêm 51,8%, elas já representam 40% dos líderes de grupos de pesquisa e destacam-se como as mais jovens, em percentuais praticamente iguais dos 24 aos 35 anos, o que reforça a tendência de equiparação no futuro.

Além disso, na área de iniciação científica, que inclui o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), elas têm grande destaque. Dos 18.828 estudantes envolvidos com essas atividades, as mulheres são 55,9% e, entre os bolsistas do Pibic, 54,9%.

Na UnB, a situação é semelhante. As mulheres recebem 60,5% das bolsas de iniciação científica. Mas apesar de os números mostrarem uma progressão e de as análises apontarem para a equiparação, pesquisadoras dos mais variados níveis da UnB indicam que o caminho da mulher na ciência ainda é mais complexo e lento que o dos homens. Segundo a professora emérita e pesquisadora associada ao Instituto de Geociências da UnB, Maria Lea Labouriau, a tripla jornada (cuidar de casa, dos filhos e trabalhar) acaba por retardar o avanço na carreira.

Já a professora do Instituto de Ciências Biológicas, Rosana Tidon, convive com o avanço feminino diariamente. No laboratório em que trabalha, de Biologia Evolutiva, há sete pesquisadores. Apenas um é homem. Mas, para ela, é mais difícil para a mulher desenvolver carreira científica e de pesquisa.

Na prática, Rosana detecta que existem pressões sociais sobre a mulher em relação ao período fértil e à constituição da família. Ela revela que teve certo receio antes de engravidar justamente por conta da dedicação exigida pela carreira. Mas sua opção foi clara: primeiro a carreira e depois a família.