Título: Células-tronco renovam esperanças
Autor: Melissa Medeiros
Fonte: Jornal do Brasil, 07/03/2005, Brasília, p. D6

Portadores de diabetes tipo 1 reacendem a expectativa de cura com a aprovação da Lei de Biossegurança A carência de insulina afasta dos alimentos doces 2,5 milhões de brasileiros, segundo o Ministério da Saúde. Só no Distrito Federal são mais 130 mil diabéticos. O sinal de esperança da cura se acendeu depois da aprovação da Lei de Biossegurança pelo Congresso Nacional na última semana. A liberação de pesquisas com células-tronco embrionárias vai favorecer os estudos que buscam a cura do diabetes tipo 1 - que destrói as células do pâncreas produtoras de insulina. Estudos como esses já vêm sendo feitos em diversos países e os resultados têm gerado esperança por causa da alta capacidade dessas células se multiplicarem e darem origem a diferentes tipos de células. As células-tronco estão presentes, principalmente, nas primeiras células do embrião, no cordão umbilical e na medula óssea. A diferença das células embrionárias para as adultas é que as de embriões têm capacidade de se transformarem em qualquer tecido do corpo humano. Enquanto, as adultas têm uma menor transformação.

As pesquisas mais avançados estão sendo feitas por pesquisadores coreanos, por enquanto realizada em ratos, consiste em desenvolver um gene que produz uma molécula simplificada de insulina que é responde ao estímulo glicêmico. Esse gene tem sido introduzido em células hepáticas de ratos glicêmicos, que ficaram curados.

Antes da aprovação de pesquisas com células-tronco embrionárias, já vinha sendo testado no Brasil, por meio do cientista Júlio César Voltarelli, médico do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto/SP, o uso das células-tronco adultas encontradas na medula.

Realizada em pessoas com diabetes tipo 1 recém-detectado, o primeiro passo é utilizar imunossupressores (drogas capazes de ''desligar'' o sistema de defesa, eliminando as células que o comandam), de forma a ganhar uma trégua no ataque ao pâncreas. A seguir vêm as células-tronco da medula óssea do próprio paciente, que são estimuladas a ir para o sangue, coletadas e reinseridas. Como as células-tronco da medula são capazes de originar qualquer célula do sangue, elas refazem o sistema imune do paciente.

Segundo o cientista, a primeira etapa envolve riscos, mas em pacientes em estágio inicial da doença não causa grandes danos.

- A medicação e a quimioterapia causam desgastes e riscos, mas já em paciente com pouco tempo de diabestes, os efeitos são menores - diz Voltarelli.

As pesquisas de células-tronco embrionárias têm grandes chances de evoluir mais rápido do que os demais tratamentos da medicina, como os transplantes que levaram anos sendo estudados. A Sociedade Brasileira de Diabetes estipula que o uso das células-tronco embrionárias só devem ser testadas em humanos no prazo de cinco a dez anos.

- Imaginamos que esse é o tempo necessário para termos resultados confiáveis. É muito para quem está doente, mas se analisarmos é até rápido para não corrermos grandes riscos - explica Reginaldo Albuquerque, membro do Conselho Científico da Sociedade Brasileira de Diabetes.

No Distrito Federal, não há pesquisa em andamento com células-tronco. O primeiro passo está sendo a criação de um grupo de estudos, na Universidade Católica, para pesquisas com células-tronco de tecido muscular e ósseo. Porém, nada ainda relacionado com diabetes.