O Globo, n. 32036, 23/04/2021, Mundo, p. 24

 

EUA e grupo de países anunciam planos bilionários de preservação
Filipe Barini
23/04/2021

 

 

 

O financiamento para permitira execução das metas de redução de emissões apresentadas pelos países foi um dos temas centrais do primeiro dia da Cúpula de Líderes sobre o Clima, convocada pelo presidente americano, Joe Biden. E veio do anfitrião a proposta mais ampla: logo depois do discurso de Biden, a Casa Branca anunciou um plano que prevê dobrar as verbas para ações climáticas em países em desenvolvimento.

À decisão americana, somaram-se ainda uma iniciativa bilionária capitaneada por EUA, Reino Unido e Noruega para as florestas e a pressão pelo maior envolvimento do setor financeiro na transição para uma economia verde.

De acordo com o governo americano, até 2024, o valor destinado a ações internacionais para o clima dobrará em relação ao investido durante o segundo mandato do ex-presidente Barack Obama, estimado em uma média de US$ 2,8 bilhões (cerca de R$ 15,4 bilhões) por ano. Para isso, uma complementação orçamentária precisará ser acertada com o Congresso americano.

A ordem executiva aponta que o governo Biden está engajado “com objetivos ambiciosos, porém alcançáveis, relacionados ao financiamento público para o clima”. A Casa Branca apontou que as ações servirão parar estabelecera “lide rançados EU Ana diplomacia climática internacional ”.

Dentro deste contexto, veio outro grande anúncio de financiamento da cúpula: a chamada “Leaf Coalition”, liderada por EUA, Reino Unido, Noruega e um grupo de empresas, que pretende remunerar governos nacionais e estaduais por seus resultados na preservação de biomas. O plano tem como objetivo levantar um financiamento inicial de US$ 1 bilhão— os interessados terão que apresentar projetos até julho, e os valores só serão disponibilizados caso mostrem resultados positivos.

O formato é similar ao do Fundo Amazônia, paralisado desde 2019, quando Alemanha e Noruega suspenderam os repasses após o governo Bolsonaro extinguir comitês que orientavam quais projetos seriam financiados.

Os governadores que integram o Consórcio da Amazônia Legal, que reúne estados da região, disseram que a coalizão é um “passo altamente positivo”. Em nota, o grupo aponta que “iniciativas como essa valorizam os esforços dos governos subnacionais na implementação de projetos que aliam o desenvolvimento regional, a melhoria de indicadores sociais e a manutenção da floresta em pé”.

Um tema que já frequentava estudos relacionados a ações sobre o clima, a participação do setor privado ficou mais evidente na cúpula. A própria ordem executiva de Biden destaca a necessidade de adotar políticas que permitam a captação de recursos junto a empresas e doadores privados, além de apoiar empresas a darem seus próprios passos na transição para uma economia de baixo carbono.

ECONOMIA VERDE

Uma dessas iniciativas, a Aliança Financeira de Glasgow para Zero Emissões, formada por cerca de 170 empresas do setor financeiro responsáveis por gerir US$ 70 trilhões em ativos, compromete-se a ajudar na transição para um modelo econômico verde. O principal foco das ações será em empresas vistas como as maiores poluidoras, em setores como energia, metalurgia e construção civil.

Na mesma linha, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, mencionou outros mecanismos “verdes” que poderão ser usados para captar dinheiro junto ao setor privado. Um dele sé a emissão de títulos verdes, papéis de renda fixa atrelados ao financiamento de projetos sustentáveis—segundo Michel ,30% do valor total do pacote de recuperação da União Europeia, de 1,8 trilhão de euros, virão dessa modalidade.

Michel destacou ainda a necessidade da precificação do carbono, tema mencionado também pela premier da Nova Zelândia, Jacinda Ardern. Ele consiste na compra e venda de “créditos” relativos a emissões de gases do efeito estufa—países que não atinjam suas metas podem comprar créditos de nações que emitem menos.

Em sua fala, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, apon touque os valores cobrados por esses créditos são muito baixos, e pressionou o G -20 por um acordo sobre um piso para eles.

O governo Bolsonaro defende que o Brasil deveria receber US$ 133 bilhões por ter reduzido as emissões de carbono em 7,8 bilhões de toneladas entre 2006 e 2017. Ele faz o cálculo baseado no preço do mercado de carbono da Califórnia, onde atonelada vale US $16. No entanto, no âmbito do Acordo de Paris, o mercado não foi regulamentado.