O Estado de São Paulo, n. 46482, 21/01/2021. Internacional, p. A16

 

Bolsonaro exalta ‘parceria’ e cita acordo de Paris.

Emilly Behnke

21/01/2021

 

 

Em carta ao americano, brasileiro aborda tema do desenvolvimento sustentável e diz que relação entre os dois países é 'longa e sólida'

O presidente Jair Bolsonaro cumprimentou ontem Joe Biden pela posse como 46.º presidente dos Estados Unidos e disse ter expressado, por meio de uma carta enviada a ele, a "visão de um excelente futuro para a parceria Brasil-EUA". Segundo Bolsonaro, que levou 38 dias para reconhecer a vitória democrata, a relação entre os dois países é "longa e sólida" e se baseia em "valores elevados, como a defesa da democracia e das liberdades individuais". Ele dedicou trecho da carta para abordar a questão das mudanças climáticas e o Acordo de Paris.

A pronta manifestação do presidente brasileiro representa uma revisão da forma como ele vinha se comportando no processo eleitoral americano. Bolsonaro foi um dos últimos chefes de Estado a reconhecer a vitória de Biden, ao lado do presidente da Rússia, Vladimir Putin, e do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador. Com base na apuração dos Estados, a imprensa dos EUA projetou, em 7 de novembro, a vitória de Biden. Só em 15 de dezembro o Ministério das Relações Exteriores divulgou nota reconhecendo o resultado.

Durante o período eleitoral americano, Bolsonaro disse que apoiava a reeleição de Donald Trump. Chegou a afirmar que viajaria a Washington para a cerimônia de posse.

"Sigo empenhado e pronto para trabalhar pela prosperidade de nossas nações e o bem-estar de nossos cidadãos", escreveu Bolsonaro no Twitter. Na carta divulgada ontem, o presidente brasileiro diz ser "grande admirador dos EUA". Ele sustenta que passou a "corrigir" o que chamou de "equívocos de governos" anteriores que "afastaram o Brasil dos EUA".

Clima. Na sequência do documento, o brasileiro cita relações bilaterais entre os dois países no campo econômico, tecnológico e do desenvolvimento sustentável. Bolsonaro dedica um trecho da carta para falar sobre mudanças climáticas, proteção ambiental e Amazônia. "Estamos prontos, ademais, a continuar nossa parceria em prol do desenvolvimento sustentável e da proteção do meio ambiente, em especial a Amazônia, com base em nosso diálogo ambiental, recém-inaugurado. Noto, a propósito, que o Brasil demonstrou compromisso com o Acordo de Paris com a apresentação de suas novas metas nacionais", diz Bolsonaro na carta.

O tratado assinado por 195 países estabelece esforços conjuntos para tentar conter o aumento da temperatura do planeta a menos de 2°C até o fim do século. Horas após tomar posse e cumprindo uma promessa de campanha, Biden assinou 17 ordens executivas, incluindo o retorno dos EUA ao Acordo de Paris. Em 2019, no primeiro ano do seu mandato, Bolsonaro disse que, "por ora", o Brasil continuaria no acordo.

Em um dos debates com Trump durante a disputa presidencial, o então candidato Joe Biden fez críticas ao desmatamento na Amazônia. Ele disse que "começaria imediatamente a organizar o hemisfério e o mundo para prover US$ 20 bilhões para a Amazônia, para o Brasil não queimar mais a Amazônia". A declaração gerou uma resposta de Bolsonaro, que, na ocasião, classificou o comentário como "lamentável", "desastroso e gratuito" e fez uma série de postagens críticas a Biden no Twitter.

A carta de Bolsonaro a Biden menciona ainda a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). "Na OCDE, com o apoio dos EUA, o Brasil espera poder dar contribuição mais efetiva e aumentar a representatividade da organização."

O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que a relação com os EUA continuará "de Estado para Estado", e o país americano segue como "farol" de modelo democrático no Ocidente. Alinhado a Trump, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que "com Bolsonaro, o Brasil retomou a vocação de uma parceria profunda com os EUA, em benefício dos dois povos e da liberdade em todo o mundo". "Esperamos, com o presidente Biden, aprofundar essa parceria, diante dos novos desafios que se deparam aos nossos ideais comuns", escreveu o chanceler no Twitter.

   

Congresso. Em nome do Congresso brasileiro, os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cumprimentaram Biden e Kamala Harris. Para Maia, a mudança na presidência americana é oportunidade de união com o Brasil para o "fortalecimento da democracia, do combate ao radicalismo e da proteção do meio ambiente". "Que nossos países possam manter abertos os canais do diálogo e do entendimento", escreveu Alcolumbre no Twitter.

‘Diálogo’

"Estamos prontos a continuar nossa parceria em prol do desenvolvimento sustentável e da proteção do meio ambiente, em especial a Amazônia, com base em nosso diálogo ambiental, recém-inaugurado."

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE DA REPÚBLICA