O Estado de São Paulo, n. 46484, 23/01/2021. Política, p. A8
 
Placar mostra Pacheco à frente na disputa pelo senado
23/01/2021
 
 
 
 Recorte capturado

Apoiado por Bolsonaro, senador do DEM tinha 6 votos declarados a mais que Simone Tebet (MDB); 18 não haviam se manifestado   

O candidato do DEM à presidência do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), lidera a disputa na Casa em votos declarados, segundo o placar do Estadão. De acordo com o levantamento, 33 parlamentares manifestaram apoio a Pacheco; sua principal adversária na eleição marcada para fevereiro, Simone Tebet (MDB-MS) tem 27 votos declarados. Para se eleger são necessários 41 votos dos 81 senadores.

Pacheco é apoiado pelo atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e pelo presidente Jair Bolsonaro. O número de parlamentares que não quiseram responder (18) à reportagem – a eleição é secreta – pode definir a disputa para qualquer um dos lados. Major Olímpio (PSL-SP) e Jorge Kajuru (Cidadania-go) também se colocaram como candidatos. Cada um aparece com um voto.

O placar, no entanto, mostra que no quesito fidelidade partidária Simone tem vantagem: a emedebista reúne o apoio de 23 dos 28 senadores que compõem os partidos fechados oficialmente com ela, uma taxa de 82%. Pacheco alcança 73% no mesmo critério, com 30 dos 41 parlamentares cujas bancadas anunciaram apoio afirmando que votarão nele – número que, se confirmado, pode lhe dar a vitória. A Rede e o PSDB não sustentam formalmente nenhuma das candidaturas.

Assim como os deputados, muitos senadores têm aberto voto nas redes sociais a fim de incentivar dissidências, especialmente daqueles parlamentares que possam estar incomodados por seus partidos apoiarem candidato defendido pelo governo Bolsonaro. Segundo o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), “o voto aberto pode mudar o rumo do desfecho (a favor de Pacheco) e fortalecer o Brasil sob todos os aspectos”.

Vice-líder do governo na Casa, Jorginho Mello (PL-SC) afirmou que os três senadores da sigla vão votar em Pacheco, conforme decisão da bancada. No placar, um deles não respondeu: Wellington Fagundes (MT). “Foi uma decisão da bancada. Nós fizemos um acordo e vamos votar no Pacheco, que está preparado para o cargo, assim como a Simone, aliás. O Senado estará em boas mãos com qualquer um dos dois”, disse.

Estratégia. Após anunciar sua candidatura com um discurso de independência, mas não de oposição ao governo federal, Simone tem assumido posturas e críticas mais firmes à gestão Bolsonaro. A estratégia foi adotada como forma de se contrapor a Pacheco, defendido também por Alcolumbre (DEM-AP), que é aliado do governo.

Em nota divulgada nesta semana, a candidata acusou o presidente de perder a guerra das vacinas e classificou medidas tomadas por ele como “arroubos autoritários e machistas”. Em um discurso alinhado ao candidato do MDB à presidência da Câmara, Baleia Rossi (SP), a senadora provocou dizendo que “toda vez que Bolsonaro abre a boca”, ambos somam votos na disputa no Legislativo.

A interferência de Bolsonaro na eleição para o comando da Câmara dos Deputados e do Senado transformou a disputa em um “referendo” sobre o governo. Enquanto o País discute a necessidade de se avançar na vacinação contra a covid-19, o presidente da República entrou no varejo das negociações.

Na eleição no Senado, o “referendo” é entre Bolsonaro e seu ex-ministro da Justiça e ex-juiz Sérgio Moro, por causa da Operação Lava Jato. O presidente disse ter “simpatia” por Pacheco, que tem o apoio de nove partidos até aqui: DEM, Progressistas, PL, PDT, PSD, PROS, PSC, Republicanos e PT.

Nessa disputa, que reúne petistas e bolsonaristas de um lado, Simone Tebet, defensora da Lava Jato, virou uma espécie de “Moro de saias” e conquistou o apoio dos senadores “lavajatistas”, como os que integram o bloco Muda Senado.

Alinhamento. Até aqui, no entanto, Simone Tebet e Rodrigo Pacheco votaram da mesma forma em quase todas as medidas analisadas pela Casa na atual legislatura. Os dois estiveram do mesmo lado em 92,65% de 126 propostas votadas desde 2019, o que torna Pacheco o senador mais alinhado a Simone entre todos os demais 80 senadores, de acordo com um levantamento da Inteligov, consultoria especializada em analisar dados do Poder Legislativo, publicado pelo Estadão.

Sem ataques diretos – diferentemente do que ocorre na Câmara entre Arthur Lira (Progressistas-al) e Baleia Rossi –, ambos os candidatos mais bem posicionados à presidência do Senado seguem fazendo campanha “limpa”, mas atraindo votos do bloco oposto. A eleição será em 1.º de fevereiro Enquanto a disputa no Senado soma quatro candidaturas, na Câmara, até agora, além de Lira e Baleia, outros seis deputado concorrem: Luiza Erundina (PSOL-SP), Marcel Van Hattem (Novo-rs), Fábio Ramalho (MDB-MG), Alexandre Frota (PSDB-SP), André Janones e Capitão Augusto (PL-SP). / COLABORARAM MATHEUS LARA, RENATO VASCONCELOS e TULIO KRUSE