O Estado de São Paulo, n. 46484, 23/01/2021. Economia, p. B6

 

Economia vê fala de Pacheco como 'retórica'.

Idiana Tomazelli

Adriana â€‹Fernandes

23/01/2021

 

 

Candidato do Planalto ao comando do Senado disse que o teto de gastos não pode ser algo 'intocado' e defendeu retomada do auxílio

Apesar do pânico entre investidores e no mercado financeiro com o aceno feito por Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato ao comando do Senado, a uma possível revisão do teto de gastos (mecanismo que limita o avanço das despesas à inflação), a equipe econômica encarou as declarações do parlamentar como "retórica política" em meio à disputa pela cadeira hoje ocupada por Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Em entrevista ao Estadão/broadcast, Pacheco disse que o teto de gastos não pode ser algo "intocado" e que deveria ser revisto para abrir caminho a políticas tidas por ele como necessárias, como uma nova rodada do auxílio emergencial ou um incremento no programa Bolsa Família.

As declarações repercutiram imediatamente no mercado, porque o democrata, que é o candidato apoiado pelo Palácio do Planalto na corrida pelo comando do Senado, adotou um discurso oposto à agenda defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Além disso, Pacheco detém hoje o maior número de apoios dentro da Casa, contra a candidatura de Simone Tebet (MDB-MS).

Mesmo com a repercussão no mercado, o tom é de contemporização na equipe econômica. A avaliação é que é difícil saber o que é discurso político, devido à proximidade da disputa pela presidência do Senado, e o que é convicção própria de Pacheco. O democrata reúne em torno de sua candidatura um arco bastante diverso de siglas, que vai do PSC, tido como uma legenda conservadora, até o PT, opositor ao governo Bolsonaro e que é contra a manutenção do teto de gastos.

A pouco menos de duas semanas da eleição para a mesa do Senado, Pacheco, na avaliação da área econômica, pode ter usado da "retórica" para evitar desgaste junto a seus apoiadores num momento delicado da disputa. Por isso, a declaração foi vista com cautela dentro do Ministério da Economia, já que nada disso significa uma mudança de rota imediata na condução das negociações com o Congresso pelas medidas de ajuste.

No mercado financeiro, a entrevista do candidato à presidência do Senado reforçou o sinal amarelo que já está aceso devido à combinação de atraso na vacinação contra covid-19, pressão por prorrogação do auxílio emergencial e inflação mais elevada.

A definição no comando do Congresso é considerada essencial para destravar a pauta econômica. A mais urgente é o Orçamento de 2021, mas uma série de reformas também aguarda na fila. O foco da área econômica também se divide com o cronograma da vacinação, já que a imunização da população é importante para a retomada da atividade econômica em definitivo.

Nos últimos dias, a equipe econômica monitorou com preocupação os atrasos no envio de vacinas e insumos para a fabricação de imunizantes. A demora na vacinação pode comprometer a retomada e ampliar ainda mais a pressão por novas ajudas do governo.