O Globo, n. 32037, 24/04/2021, País, p. 6

 

Em um ano, Moro vai de superministro a suspeito
Eduardo Bresciani
24/04/2021

 

 

 

Em uma entrevista coletiva no dia 24 de abril de 2020, o ex-juiz Sergio Moro anunciava sua saída do Ministério da Justiça acusando o presidente Jair Bolsonaro de interferir de forma indevida na Polícia Federal. Um ano depois, a investigação contra Bolsonaro está parada, o presidente tem agora o suporte político do centrão e quem virou alvo foi o exministro, com o Supremo Tribunal Federal (STF) declarando como parcial sua atuação na Lava-Jato no processo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A confirmação do plenário do STF da decisão da Segunda Turma pela suspeição do juiz no caso do triplex é mais um revés para o ministro que passou a ser alvo de vários atores da política brasileira desde que deixou a cadeira de magistrado, em 2018.

A decisão de aceitar o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública, considerado um superministério, embasou o pedido da defesa de Lula, mas a decisão da Segunda Turma levou em conta, ainda que extraoficialmente, as mensagens que constam no processo da Operação Spoofing, obtidas por um hacker que invadiu contas no Telegram de procuradores da Lava-Jato. Tanto é que o voto decisivo foi da ministra Cármen Lúcia, que dois anos antes tinha considerado como correta a atuação do magistrado.

Ao deixar o governo Bolsonaro atirando, Moro, que já era visado pela esquerda, viu-se alvo de uma campanha de vários polos da política brasileira. O centrão, que atuou para dificultar sua atuação como ministro,

Especialmente no pacote anticrime, foi recebido de braços abertos por Bolsonaro no governo, enquanto o ex-magistrado passou a ser alvo de redes bolsonaristas tido como traidor.

Assim, o ex-juiz — que já foi tido como nome certo para uma cadeira no Supremo Tribunal Federal ou ator político importante para uma futura chapa presidencial — viu seu espaço político reduzido e optou em novembro passado por atuar como consultor de um escritório que tem a Odebrecht entre os clientes. Citado ainda em alguns momentos como possível candidato à Presidência em 2022, o exjuiz se mostra cada vez mais distante da política e hoje poucos atores acreditam que há um caminho para sua volta ao cenário, ainda mais diante da polarização entre Lula e Bolsonaro.