O Globo, n. 32037, 24/04/2021, País, p. 7

 

Entrevista - Gleisi Hoffmann: “não vejo problema em aliança fora do nosso campo”
Gleisi Hoffmann
Sérgio Roxo
24/04/2021

 

 

 

Dirigente diz que o partido ainda não começou a discutir o cenário eleitoral para 2022, mas que sigla pode se juntar a nomes que não são da esquerda desde que haja compromisso com programa comum
SÉRGIO ROXO sergio.roxo@sp.oglobo.com.br SÃO PAULO

 
Defesa. Gleisi nega que tenha havido corrupção do PT na Petrobras e minimizou delação do ex-ministro Antonio Palocci Ciro Gomes atacou novamente o PT em entrevista ao GLOBO na semana passada e chamou o ex-presidente Lula de ególatra. Como a senhora vê a posição dele?

Em primeiro lugar, a gente não tem tempo para responder o Ciro. Tem tanta coisa para fazer pelo povo brasileiro. Segundo, me parece que o Ciro, para ter mídia, tem que falar mal do PT e do presidente Lula.

A senhora enxerga a aliança na chapa presidencial em 2022 restrita aos partidos de esquerda ou há possibilidade de ampliar para o centro?

Como não abrimos ainda essa discussão sobre a estratégia eleitoral, fico com dificuldade de falar sobre isso. Seria importante que a gente pudesse agregar o campo progressista popular numa candidatura. Se não for possível, a gente respeita. É uma eleição de dois turnos.

A senhora chamou o programa do MDB no governo Temer de pinguela para o passado. O MDB pode estar numa chapa com o PT em 2022?

Não temos conversa com o MDB a esse respeito. É um partido que se posiciona mais ao centro, à centro-direita. Tenho visto ensaios deles em termos de nomes e de apoiamento. E tem também as realidades regionais. No Paraná, temos grande proximidade com o (senador Roberto) Requião. No Pará, com o governador Hélder (Barbalho).

E nacionalmente?

Não tivemos essa discussão ainda. Vamos trabalhar todas as nossas alianças em cima de um programa e de um projeto para o país. Se tivermos condições de conversar com partidos que não são do nosso campo, e esses partidos tiverem compromisso com o programa e um projeto, não vejo problema.

Setores do PT usam a decisão de anular as condenações de Lula para propagar que o Supremo o declarou inocente. Mas o mérito não foi analisado. Isso não acaba ludibriando a população?

Os processos voltaram à fase inicial. Foram anuladas as sentenças. E até trânsito em julgado, a pessoa é inocente. Portanto, Lula é inocente. Caberá ao Judiciário provar que ele é culpado.

Provavelmente na eleição, o PT será cobrado pelos escândalos de corrupção. Como deve responder a isso?

Tivemos nos últimos cinco anos uma campanha sistemática, política, midiática de diversos setores da sociedade imputando ao PT a pecha de corrupto. E não tivemos condições de nos defender com o mesmo espaço. A sentença que anulou as condenações do presidente Lula e também a de suspeição do Sergio Moro

Nos dão argumento e condições de fazer um embate contra essa narrativa.

A senhora concorda que houve corrupção na Petrobras durante os governos do PT?

Não concordo que houve corrupção na Petrobras durante os governos do PT. Os outros governos também podem ter tido problema. E acho que tiveram. O importante é que cada um que cometeu um malfeito, comprovado o crime, tem que pagar por ele. O que não pode é uma campanha sistemática contra um partido.

O Antonio Palocci foi uma figura importante no PT, braço direito do Lula, e confessou que praticou corrupção. Não é uma mácula para o partido?

O Palocci não apresentou nenhuma prova contra o Presidente Lula. Apenas falou. E fez uma negociação com o Poder Judiciário para se livrar de uma pena maior. Então, o Palocci não é nenhuma referência para nós. Assim como mentiu nas últimas declarações que deu, se deixou utilizar pela operação de Sergio Moro.

O PT não fala da situação econômica deixada pelo governo Dilma. Houve erro da ex-presidente?

Em 2015, nós começamos a viver crise internacional e crise política com questionamento da eleição da Dilma. Acho que diante dessas circunstâncias o governo não conseguiu dar as respostas para evitar que tivesse crise econômica ou que ela se aprofundasse. Agora, dizer que o PT quebrou o Brasil, isso não é verdade.

"A sentença que anulou as condenações do Lula e também a suspeição do Moro nos dão condições de fazer um embate contra pecha de que o PT é corrupto"