O Globo, n. 32037, 24/04/2021, Economia, p. 17

 

Minha Casa Minha Vida fica praticamente sem dinheiro
Geralda Doca
24/04/2021

 

 

 

O governo praticamente zerou os recursos do Orçamentopara a famílias de baixa renda (até R$ 1,8 mil) do programa Minha Casa Minha Vida, que foi reformulado. A verba, inicialmente projetada em R$ 1,54 bilhão, caiu para R$ 27 milhões na lei orçamentária, publicada ontem. A consequência será a paralisação de 250 mil unidades em obras em todo o país, segundo a Associação Brasileira da Indústria da Construção Civil (Cbic). Muitas dessas obras estavam paradas e foram retomadas pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. Além de prejudicar os mais pobres, o corte afetará as construtoras responsáveis pelos empreendimentos, já atingidas pela alta nos custos da construção civil, disse o presidente da Cbic, José Carlos Martins. Segundo ele, a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, quis dar o troco em Marinho, considerado seu desafeto.

— Está claro que houve uma retaliação do Guedes ao Marinho —afirmou Martins ao GLOBO.

A pasta de Marinho foi uma das mais afetadas nos cortes no projeto orçamentário. O programa Minha Casa Minha Vida, criado na gestão petista, foi rebatizado pelo atual governo de Casa Verde e Amarela. A faixa de renda mais baixa (faixa 1) deixou de existir, mas havia promessa de dar continuidade às obras que foram paralisadas.

As famílias beneficiadas praticamente ganham o imóvel, pagando apenas prestações simbólicas. A fonte de recursos é o Orçamento da União que abastece o Fundo de Arrendamento Residencial (FAR). Nas faixas de renda superiores, o programa não será afetado porque os recursos para os empréstimos são originários do FGTS. Estudo da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) mostra que na faixa 1 estão os que mais precisam de política habitacional. De acordo com pesquisa da economista Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção da FGV, antecipada pelo GLOBO, 41,6% do déficit habitacional do país são de famílias com renda de até um salário mínimo.