Título: Saúde na indústria de remédios
Autor: Iolanda Nascimento
Fonte: Jornal do Brasil, 07/03/2005, País, p. A17
Vendas do setor de medicamentos crescem 10,3%, puxadas pelo desempenho dos genéricos e similares
O reaquecimento da economia e o desempenho dos genéricos e similares levou saúde ao segmento de medicamentos no Brasil. A Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma) apurou aumento de 10,3% no volume de unidades vendidas, o equivalente a 1,65 bilhão em 2004 ante os 1,49 bilhão do ano anterior. É o melhor resultado da indústria desde 2000 e reverte um ciclo de seis anos de queda no consumo de remédios no Brasil. - Quando o país cresce, a população recupera o emprego, tem mais renda e isso impulsionou as vendas de medicamentos - explica o presidente-executivo da Febrafarma, Ciro Mortella.
Se a recuperação do setor veio com força em 2004, ela foi ainda mais intensa para as empresas brasileiras. Pesquisa do IMS Health - auditora de vendas da indústria de medicamentos - verificou que o crescimento das empresas nacionais superou a média do mercado, enquanto o desempenho dos laboratórios de capital estrangeiro ficou abaixo do incremento do setor.
Segundo Theo van der Loo, presidente da Schering do Brasil, isso se deu em virtude, principalmente, do avanço dos genéricos e dos similares, os mais produzidos pelas farmacêuticas brasileiras.
A produção de genéricos e similares mordeu o faturamento de laboratórios gigantes, como a Pfizer e a Schering. Enquanto o volume de vendas se manteve estável para o primeiro, a Schering amargou queda de 1,65% em 2004, ficando na décima primeira colocação do IMS em 2004, com 2,87% do total ante 2,97% que detinha em 2003.
Loo explica que a subsidiária foi afetada, principalmente, pela disputa dos produtos similares em seu mercado mais importante, e do qual é líder no Brasil, o de anticoncepcionais, responsável por cerca de 80% das suas vendas.
- Quase todo o nosso portfólio de anticoncepcionais orais tem concorrente similar. É um mercado altamente pulverizado, com mais de 80 marcas.
O preço, no entanto, ajudou a manter em alta o faturamento da Schering, que cresceu 17%.
A renda ainda achatada é um dos propulsores deste segmento, segundo explica João Sanches, diretor da Merck Sharp & Dohme.
- Houve uma recuperação do nível de emprego, mas de renda não. E quando ela não cresce, os produtos mais baratos são os que mais se destacam.
César Preti, presidente no Brasil do laboratório americano Pfizer - líder do mercado nacional com 5,8% de participação no faturamento do setor, de acordo com o IMS - lembra ainda que o crescimento do ano passado foi sobre uma base fraca.
- Em 2003, tivemos um dos piores anos para a indústria e 2004 foi de recuperação apenas parcial dessa perda - afirmou, acrescentando que o resultado em unidades do mercado brasileiro ficou muito abaixo da média histórica.
O faturamento do setor (sem impostos) cresceu 17,67% em reais, passando dos R$ 16,9 bilhões apurados em 2003 para R$ 19,8 bilhões no ano passado, conforme a Febrafarma. Mortella explica que a elevação do faturamento, além do maior volume de vendas, se explica pelo reajuste de preços - em média 5,7% mais elevados para cerca de 12 mil medicamentos com preço sob controle do governo.
Com janeiro já tendo sinalizado tendência de continuidade de crescimento, a Febrafarma e as indústrias descrevem como otimistas suas expectativas para este ano. Os dados da Febrafarma indicam que em janeiro de 2005 foram comercializadas 106,4 milhões de unidades ante as 105,1 milhões do mesmo mês de 2004. O faturamento pulou de R$ 1,2 bilhão de janeiro do ano passado para R$ 1,3 bilhão em igual fase deste ano.
- Estimamos crescimento em torno de 5% em unidades, o que não é pouco, já que é sobre a base de aumento de 10,3% - diz Mortella, que ressalta também que a concretização dependerá da manutenção do crescimento econômico. Em faturamento, ele prevê aumento entre 6% e 7%, o estimado para o reajuste dos preços dos remédios sob controle.
Além do bom desempenho da economia brasileira, os laboratórios apostam também em suas novas drogas, recém-lançadas ou que devem chegar ao mercado este ano, para alavancar as vendas, principalmente em valor. A estimativa, porém, engloba as exportações da empresa, além do desempenho no Brasil.